Oranges are not the only fruit

Tenho em casa alguns livros que esperaram gentilmente por mim, pelo tempo certo para serem lidos. 
E este está à minha espera há mais de dez anos.

Cruzei-me com a escrita de Jeanette Winterson numa das Fnacs de Lisboa, quando a existência de uma na minha cidade era uma miragem muito distante. Esperava pela ligação do expresso de regresso a casa, nos tempos em que eu trabalhava no meio das planícies e aproveitei para me meter na Fnac. Comprei "Gut Symmetries" por acaso, numa edição em Inglês, e lembro-me que, mesmo com a fraca luz do expresso, comecei a ler o livro. Li-o na altura como quem saboreia um acepipe e já o reli entretanto. É um dos meus livros preferidos de sempre. 
Como é que a física quântica e o amor estão muito interligados? Ela conta. 

Jeanette Winterson é uma das escritoras mais inspiradas da atualidade e uma impressionante contadora de histórias, sobretudo pela capacidade de entrelaçar as personagens e os eventos. 


"Oranges are not the only fruit" foi o seu primeiro livro. Narrado na primeira pessoa, JW conta em formato de ficção a sua infância e adolescência numa família que a adoptou. 
"Like most people I lived for a long time with my mother and father. My father liked to watch the wrestling, my mother liked to wrestle; it didn't mater what."

Como sempre me fascinou a relação mãe-filha e alguns ditados populares a vulso, este livro ressoa muito dentro de mim. Relembra-me que tenho ali uns rabiscos numas quantas páginas, escritas há mais de dez anos. Relembra-me que, quando eu era miúda, passei algum tempo a remoer estes versos:

Minha mãe é minha amiga
Quando coze faz-me um bolo
Mas quando se zanga comigo
Dá-me com a pá do forno



Inspirada pelo fervor religioso da mãe, que seguia com mais atenção as ações missionárias evangelistas pelo mundo do que a vida interior da sua filha, JW dava sermões aos seis anos de idade. Enquanto as crianças escreviam as habituais composições sobre as férias, JW escrevia sobre o Inferno e como evitá-lo.
"All men are the Devil," my mother said. "Have an orange".
Mas há sempre um dia em que uma rapariga dá por si apaixonada e se der por si apaixonada por uma rapariga isso é uma grande carga de arrelias na certa. 
"Don't let anyone touch you down there," she warned. "Have an orange instead." But I did let Melanie. 
Este tinha de ser o primeiro livro da autora. As suas primeiras linhas tinham de ser "Oranges are not the only fruit", porque todos temos de cortar o cordão umbilical a certa altura, mas uns têm de romper com algo mais que isso.

JW saiu de casa aos dezasseis, pôs de parte o sonho de ser missionária e apaixonou-se pelas palavras. E ainda bem. 




Sem comentários:

Enviar um comentário