1.ª resolução de ano novo

Mudar de casa e de cidade. Algo que eu já deveria ter feito há 6 anos. Mas ainda vou a tempo. :)


Protagonista de 2014

Houve vários, mas dos que me lambem as orelhas só há um.
Por isso, completo destaque para o felino, que já tem vários nomes.

Não vou dizer que só lhe falta falar... O T-Bone não fala e ainda bem. Mas faz outras coisas giras.

- Segue-me para todo o lado, durante o dia inteiro. É um stalker, mas meiguinho.
 
- Mesmo até para a casa de banho. Dou-lhe sempre dez segundos para ele chegar. Olha para mim, senta-se e fica ali a fazer companhia.

- Fica o tempo todo do outro lado da cortina, sentado, à espera que eu saia do duche. A seguir, cheira-me um pé, depois o outro, pula para a base e lambe a água.

- Salta para cima da bancada e põe a cauda dentro do lavatório. Sim, já apanhou com pasta de dentes...

- Pula para cima da secretária do computador e senta-se a abanar ligeiramente, com os olhos semicerrados, com aquele ar "estou cheio de sono, mas se tu aguentas, eu também."

- De manhã, sento-me na cama e ele ali ao meu lado, com ar de inspetor de obras. "Este papel de parede foi muito bem escolhido."

- Quando chego a casa, vem logo a correr e instala-se no meu colo. Deito-lhe comida, trinca uns pedacitos e vem outra vez ter comigo para me lamber a testa ou as mãos. 

- Gosta de beber chá de tília, de cheirar iogurtes e lambe sempre o meu prato da sopa. Não é apreciador de peixe cozinhado, mas não se faz rogado uma bela posta de bacalhau a demolhar em cima da bancada. Never again...

- Gosta de perseguir bolas de alumínio amassado e depois devolve-mas.

- Basta dizer "isso é meu" para ele parar com as asneiras. Aliás, não faz grandes asneiras. Só afia as garras nos sítios predefinidos.

- À noite, depois de eu desligar a luz, dá-me dez minutos para eu encontrar posição para dormir e depois instala-se invariavelmente em cima das minhas pernas. E suspira.

Foi uma das criaturas que mais me fez sorrir e rir em 2014. Isto sem ele já não era a mesma coisa.



2014...

O primeiro semestre foi jeitoso, mas o segundo... foi "agarra-te que agora é sempre a descer".

Alguns momentos estranhos:

- "Hum... Este chocolate não tem passas... É pá, estou a comer a cera ortodôntica!"

-  "Como é que eu vou a Sintra com uma pessoa que sofre de agorafobia?"

- "O homem é mais simpático do que eu pensava... Ele vai justificar-me a falta!"

- "Tenho a sensação que estou a ser observada... Ah é o gato."

- "São quase três da manhã. É melhor eu dar com o sítio onde vou dormir antes que alguém surja do nada numa destas ruas desertas."

- "Estou a três mil quilómetros de casa e daqui a doze horas tenho de dar aulas ao 6.º C. Isto tem de correr bem."

- "É a pessoa mais fascinante que conheço neste momento, but she not into me..."

Edit:
- "Se todos os blind dates com homens fossem sempre assim um sucesso, era mulher para apostar mais nisso." :)

- "O protetor solar não é nenhum mito. Na próxima semana, depois do escaldão passar, tenho de espalhar melhor o creme."

- "Uau! Bela fotografia! Não tinha um único dente no lugar."


- "Bolas... Esta senhora quer mesmo dar-me porrada. Deus queira que o Joaquim entre agora na sala."

- "Hein... O diretor da escola adicionou-me? Logo agora que eu estava a pensar mudar de escola..."

- "Este pão caseiro é mesmo bom. Ó não... mais um bracket descolado..."

- "Mas que cheiro pestilento é este...? Quem é que está a fumar?"

- "Um rádio despertador... A sério?"

Entre outros.
Entra outro. :)


Separado à nascença


do senhor silva de Boliqueime


Grandes esperanças

Caaalma! Ainda não é agora que vou falar do ano novo.

Mas sim do livro by Sir Charles Dickens. 
Os eruditos... e agora aqui paro para passar mentalmente as imagens dos ditos senhores em questão. Não tem nada que enganar. Os eruditos são geralmente homens que nasceram na altura da 2.ª guerra mundial ou quando a memória dela ainda era fresca. Tiveram tempo para ler tudo porque, por um lado, na juventude deles não havia internet nem facebook e, por outro, havia menos livros para ler. Reconhecem-se igualmente pelas barbas e pelo perímetro abdominal. 

Mas dizia eu que os eruditos andam sempre com esta questão em mãos "... leiam só os clássicos" ou então não... "afinal há autores recentes incontornáveis". 
Quando o Harold Bloom editou o "Cânone Ocidental", um cartapácio bem jeitoso, a minha professora de Teoria da Literatura comoveu-se e esteve ali durante um bom bocado a dissertar sobre a coisa.

Ler os clássicos é como comer Nutella. Uma pessoa raramente vai ao engano. Pode acontecer é termo-nos esquecido do frasco no fundo do frigorífico e depois... depois microondas com ele. Está resolvido. 

Mas não será arriscado e excessivo comparar a Nutella ao Charles Dickens? Not at all. Porque eu bem me lambuzei na escrita sublime daquelas páginas em que ele conta a saga de um rapaz órfão adotado a contragosto pela irmã, "brought up by hand" como os súbditos de sua majestade diziam, e que acaba por ser um cavalheiro, um "gentleman" portanto, daqueles que se juntavam em clubes e faziam coisas que só a abundância de dinheiro e o tédio propiciam. 

E mais: durante o tempo de leitura uma pessoa entretém-se na convivência de personagens como Miss Havisham (a eterna solteira entradota que vivia com os relógios da casa todos parados nas 8:40, hora a que soube que o seu muito amado noivo tinha dado o golpe do baú no dia do casamento - there's no nice way to put it), ou a Estella (a menina com gelo no coração) ou o meu preferido, o ferreiro Joe Gargery ("Pip, old chap, ever the best of friends, ain't us?").

Hoje calhou ver a adaptação cinematografica mais recente. 
E lembrei-me do Van Gogh, daquele impacto profundo que a luz, as cores vivas e as texturas que um Van Gogh provocam, que nos fazem voltar àquela salinha da National Gallery vezes sem conta.

Ver um filme, por muito bom que seja, como foi o caso, baseado num livro sublime, será talvez como ver um Van Gogh à luz de vela. Conseguem-se ver os ciprestes, sim senhores, e os girassóis também, mas não é a mesma coisa.

É uma experiência mais profunda, tal como aquela que Mr Pip Pirrip, Pip para os amigos, foi granjeando, num livro excelente sobre a amizade, a lealdade, a gratidão e o perdão.


não me perguntem

se é do Natal, porque o ano tem mais trezentas e sessenta e tal noites. E como eu sou uma pessoa moderada e equânime, gosto de ver as alegrias e as dores bem distribuídas pelo ano todo. 
Ligar o turbo das expectativas e nostalgias na noite de Natal é uma coisa para a qual não tenho qualquer tipo de motivação.
Eu até sou budista.. por amor dos bodhisattvas. 

Va lá... É só o aniversário do messias. E um pretexto para comer fritos ad nauseam daqui até aos reis.

 
(No do Sócrates ninguém se pôs a enfeitar árvores e embrulhar chocolates como se não houvesse amanhã. Por isso é que já lhe subiu a tensão...)

the big D

A primeira vez que me apercebi que algo não estava bem com o meu cérebro foi em 2003, depois de ver o filme As Horas, com aquele célebre diálogo entre a Virginia e o marido na estação de comboios.
Virginia Woolf suicidou-se, entrando num rio com os bolsos cheios de pedras. Não era maluca, não tinha um pirolito a menos, nem um parafuso a mais, não padeceu de falta de bater punho, de fazer pela vida, e aquilo de que ela tinha não cabe na linguagem quotidiana. Virginia Woolf sofria de transtorno bipolar. Não tem a visibilidade de uma espondilite anquilosante, mas também aleija.

Um dos problemas da depressão e das doenças mentais começa logo na linguagem. Usamos a mesma palavra para identificar a tristeza de ter arranhado o carro no estacionamento e para identificar a tristeza dos cinco segundos antes do suicídio.
A semântica da depressão que uma semana inteira de chuva provoca não é a mesma da depressão em que o nosso cérebro não consegue funcionar bem.

Todos temos, uns mais que outros, uma dificuldade em lidar com o que não é visível, com o imaterial. Este é o primeiro ponto. E o segundo tem a ver com a ignorância na área da neurociência.  Ou seja, se por si só, é uma ciência em que os especialistas têm muitos pontos de interrogação, é natural que os não especialistas sintam uma perplexidade ainda maior. E depois há pessoas que não lidam bem com as perplexidades e arrumam a coisa com a linguagem quotidiana (que hoje em dia deixou de ser popular e passou a ser de um positivismo filosófico bacoco pró-empreendedorista). Assim se conclui que quem está deprimido é porque quer, é porque não sabe fazer pela vida. 

Temos um amigo que está deprimido e convidamo-lo para jantar e, no fim, queremos ver resultados, ou seja, esperamos que o nosso amigo esteja menos triste. Só que o volume da situação nada tem a ver com a pinturas automóveis arranhadas e "por acaso eu até conheço um bate-chapas que te faz um jeitinho por isso".
É química, senhores. É uma questão de química.

Se os meus amigos e familiares ficam exasperados e frustrados por me verem deprimida há quase uma década? Ficam. Mas o que não passa pela cabeça de quase todos é que a minha frustração é multiplicada por mil, porque, como dizia a Virginia Woolf no filme, se as pessoas vivem com a minha nuvem escura e o medo da minha extinção, também eu, sobretudo eu, vivo com ela e que eu, e só eu, me debato sozinha no escuro, no escuro cerrado, ao fim do dia, a ponderar subir as escadas para ir dar comida ao gato ou descê-las e ligar o carro na garagem com o portão fechado. Mas desta parte ninguém sabe, porque não vale a pena acrescentar preocupações. Além disso far-me-ia parecer estúpida, no sentido em que sou tão desprovida de inteligência que nem sequer consigo ver que mais vale ir dar comida ao gato. Porque só alguém profundamente atrasado é que põe uma questão dessas em cima da mesa. Como se eu tivesse um QI de 60 e, tendo eu mais do dobro, não me apetece passar por néscia.

E então como é que se vive assim?
Aprende-se devagarinho. Vai-se conhecendo as pastilhas, os seus efeitos positivos e os adversos. Tenho momentos bons em que a química casa bem com o meu corpo durante uns tempos. Vai-se acertando a dose aqui e ali. O médico ajusta quando me vê melhor, depois o meu cérebro relapsa.

Não é fácil aceitar que se tem uma condição médica mais ou menos crónica.
Também tenho uma hérnia discal lombar. Não posso, por exemplo, fazer zumba, jogging e outros desportos de impacto, porque isso são coisas para me porem a analgésicos e fisioterapia durante uns tempos. Mas isso não causa estranheza (e não é por conseguir subir ligeirinha uma serra, por caminhos bravios). 
Aquilo que custa é que a medicação que a P. terá de fazer para o resto da vida por causa da tiróide é normal, mas que os antidepressivos são "essa merda de que não te consegues livrar". Que marcar uma consulta com a endocrinologista é uma coisa e marcar uma com o psiquiatra é outra, porque "se tu fizesses isto, e assim e assado, e aquilo, e mais outro tanto, livravas-te dessas merdas que só enriquecem os laboratórios". 
E já experimentaste acupuntura? E Reiki? E a meditação...?
Isso e um chazinho que se vende na zona saúde do continente e punhas-te fina.
E apanhar sol, rapariga, precisas é de apanhar sol. E de sair, beber uns copos e comer uns petiscos com os amigos que isso é a melhor cura. 
Claro que sim! Umas moelas e um tinto alentejano em boa companhia são a cura para a depressão, o alzheimer, o parkinson e a esclerose múltipla.

Ah... a depressão é coisa de gente que não sabe apreciar a vida. Sim, sim... E a esclerose múltipla é uma coisa para preguiçosos que querem deslocar-se de cadeira de rodas e ter quem lhes dê banhinho.

Portanto, quando quando vejo que o gato corre o risco de ficar sem comida, uso um dos números mais importantes da minha lista e faço a medicação.
Fiz um voto de nunca mais contar aos amigos o que tomo ou deixo de tomar, se fui ou não fui ao psi. 
Vou muitas mais vezes do que eles pensam e não vou tantas como precisava porque a saúde mental é dispendiosa. Por exemplo, na penúltima vez, gastei 130 euros e o medimento não resultou.

Quando estou bem, pressentem logo, puxam-me e eu vou sem dificuldade, porque o mundo parece fazer algum sentido e eu não guardo rancores (prefiro guardar dinheiro para viajar). É uma animação pegada, porque sou boa moça, de trato fácil, com sentido de humor, sempre pronta a dizer as coisas mais inteligentes e significativas para aumentar as alegrias ou para sossegar as dores dos outros porque conheço bem o sofrimento humano, do direito e do avesso.
Quando não estou bem, volto a surgir aos seus olhos como uma atrasada (mental?) que não sabe orientar a sua vida. E fico longe deles, porque estou doente e porque não me apetece explicar-me. Quem precisa de explicações não as vai entender e quem as compreende não sente falta delas. 

Ainda assim, apesar do cérebro ser o órgão com mais descobertas a serem feitas pelos cientistas, sinto-me grata por não ter vivido no tempo na Virginia Woolf. E o meu gato também agradece. :)


ameno

não acho que esteja frio...


Sobrevivi

ao 1.º período e ainda agora não sei bem como. Daqui a muitos e muitos anos hei de lembrar-me deste mistério existencial. Dois enigmas arrumados na mesma gaveta: como surgiu o Big Bang e como cheguei inteira ao final de 2014. Com uma grande diferença: é que no primeiro há muita gente a investigar e no segundo ninguém lhe pega. E não contem comigo para nenhum dos dois. Lá dizia o Fernando Pessoa que sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo.
Espétaculo... espetáculo... não foi, mas teve coisas das boas e das outras.

Por aqui, continua-se sem fumar. Já lá vão mais de três meses e completamente firme. No outro dia, durante uma resma de testes ainda me apeteceu acender um rolinho de tabaco, mas decisão é decisão e fui fazer um fondue de chocolate para acalmar as hostes.
Ah... então mas e a balança?!
A balança continua na mesma e as calças do ano passado continuam a servir-me igualmente.

As pessoas não perguntam porque deixei eu de fumar, porque a resposta é óbvia. Porém, havia uma coisa que me deixava a pensar.
Eu tenho à minha volta umas quantas mulheres que andam perto dos cinquentas e que fumam.
E não há como dar-lhe a volta. Se até aos quarentas, nem sempre se distingue uma fumadora de uma não fumadora, a partir da esquina dessa idade não há connfusão possível. Basta olhar para uma mulher durante uns segundos e percebe-se logo se fuma e quanto fuma por dia. É o aspeto geral. É a pele, são os olhos, são os dentes... Começou a fazer-me confusão. Então, agora que ando a investir milhares de euros nos dentinhos e com resultados excelentes (vamos ver sem em 2015 me livro dos ferrinhos), ia eu conspurcar o esmalte?
Uma mulher que fuma envelhece muito mais.
E assim se deixa de fumar também por vaidade.
Há uma pessoa que gosta muito de mim que me dizia sempre "Ó Laranja, fumar é uma coisa que não combina nada contigo."
Assim, fica a fazer "pendant", que coisas a condizer é algo me me fascina e entusiasma.
Na verdade sinto como se fosse um "eu" completamente diferente.

E que mais de 2014?

O saturno lá se foi embora do céu astrológico. Já me andava a roer as bainhas das calças há quase 3 anos. Foi um longo remoinho que desarrumou tudo, mas lá deixou algumas coisas arrumadas. E já se sabe, quando se arruma fica sempre um espaço vazio. 
É definitivamente vazio. Daquele tipo de vazio de fazer eco.
E é para esse espaço vazio que tenho olhado. Há dias em que parece espaçoso no bom sentido, mas em essência é claustrofobicamente amplo. 

Por isso é que viajo, às vezes mesmo sem sair do lugar.
A minha geografia onírica é mais ou menos diversificada, mas vou muito a Paris.
Assim assim mais a Londres. 
Sempre Londres. 
Vou a Londres várias vezes por dia. Entro nos museus, ando por Westminster, apanho sol nas cadeiras de Hyde Park, vejo os esquilos a saltar, faço o Strand a pé, subo até à Soho Square e aí descanso num dos bancos. 
 Existe um tempo para uma pessoa se fazer ao caminho, mas esse tempo ainda não chegou.

De resto, não vale a pena fazer muitos balanços por causa do ouvido interno. Enredarmo-nos em balanços é como aquela atividade palerma que fazíamos enquanto miúdos, o de andar à roda sobre nós próprios para experimentarmos as tonturas consequentes.
Confere. Dá tonturas, sim senhora.
Eu prefiro vertigens.
E se for para andar à roda que seja para dançar.


Aquela coisa do PCP

não ter gostado da queda do muro dá para perceber perfeitamente. É o apreço que eles têm pelas obras bem feitas de betão armado.
É o que dá quando os cérebros são como o cimento: deixa-se passar o tempo e aquilo seca. Depois só lá vai com picareta. Ou martelo, vá...

Sócrates

detido... Certo...
mas eu quero é ouvir o estrondo do Portas a cair! Isso é que me motiva todos os dias para ver/ouvir notícias. Depois de décadas de sacanagem dissumulada no ar de estadista sério e honrado isso é que caía mesmo bem. E vai acontecer como um "bowel movement" irreversível.

Muro...

Ora bem... muro de Berlim... muro de Berlim...
Ah! A canção da Nikita!


Não me parece nada bem

que os meus alunos com 11 anos vejam "The walking dead" e escrevam composições de tema livre acerca disso.
Onde estão as histórias sobre o salvamento de gatinhos, de princesas e afins?
Qual quê... Logo no segundo parágrafo, há um morto-vivo que leva com uma pazada.Mais à frente, o cavalo estava sem tripas...
A partir dali é sempre a descer.

como quem não quer a coisa

Há conversas que começam inofensivas, como quem fala de pequenas oliveiras na serra e de flores levadas pelo vento, e que depois terminam com queixas mimadas. Mas queres que te levem? Ao colo? Se queres estar ao pé do teu amor, compra um bilhete do meio de transporte mais conveniente e mete-te ao caminho. Às tantas, foi o teu amor que não te deixou a morada. Eu, confesso, que me ia embora e não dava o endereço a mocinhas que andassem a reparar naquilo que o vento leva.
E a talhe de foice... já era tempo do mar deixar a areia em paz.


Afinal

é sobre vícios.
Há dois meses que não fumo.

o que disse eu?

para mim mesma, quando hoje entrei na piscina...

«Está fria...»
Não
«Dói-me os ossos...»
também não...

foi nem mais nem menos isto:

«Aleluia! Até que enfim... Uma professora de hidroginástica com mamas!»

Não sei se foi da T-shirt branca transpirada, se da copa C a pular de forma contida, se dos calções (tão curtos, graças a Deus), mas ia jurar que foi a aula mais breve destes meses todos. 
Prevê-se um acréscimo da minha assiduidade no meio aquático. Na fila da frente, claro.

«Ó Laranja, não te sabia tão superficial nestas coisas...»

E bem vistas as coisas não o sou assim tanto. Sublinho que não há nada melhor do que uma copa excelente e um cérebro a condizer. Porém, o exemplar mais magnífico desta junção gloriosa com que eu me cruzei nesta vida está longe e fora de mão.

O próximo post há de ser novamente sobre literatura, é o que é.



poderia

dizer-lhe que sinto a sua falta, mas em vez disso leio.
Mil e tal páginas.
Com a coleção da Tinta de China metida pelo meio, pode ser que me esqueça disso até à primavera.


não se estava mesmo a ver que

as pulseiras de elásticos faziam mal?
Ao olhos, para começar.
E à circulação sanguínea dos adultos que tinham de usar as pulseiras apertadas, feitas pelas crianças que com tanta alegria no-las ofereciam. Eu prefiro afixar desenhos. Já lhes tinha dito e agora tenho a ciência do meu lado.

há festa na aldeia!

Que não é bem aldeia, mas em todo o caso o filme com este título, do Jacques Tati, de 1949, é dos melhores que vi. Fica a sugestão cinematográfica.

Mas igualmente interessante é chegar a casa de um belo fim de semana junto da minha segunda tribo (eu sou uma índia sortuda com duas tribos) e ouvir as músicas que tocam na festa cá do burgo enquanto arrumo os despojos da diversão. Estão ali há mais de meia hora a fazer covers de qualidade, Pink Floyd incluídos. 

Literatura interessante

Lesbians know the secret to the best orgasms you’re not having, no The Guardian.

"The first time I ever had sex with a woman, I remember being overwhelmed – and not in the way I had expected. Over the course of several hours, we had three all-encompassing orgasms each and, finally, I understood the significance of our recovery periods (or the lack thereof) to women’s capacity for pleasure." 
E continua por ali fora...

uma semana depois

Ocorre-me dizer que, num país onde o salário mínimo nacional é mais do dobro, o gasóleo está ao mesmo preço que em Portugal e o pão ao mesmo preço. O "bom-dia", "se faz favor" e "obrigado continuam gratuitos por lá e muito em uso.
O meteorologia não é tão favorável, mas ainda existe por cá o tempo bom e o tempo mau...
De resto, fica uma viagem de top, memorável, refrescante e de coração a abarrotar com a minha tribo, cheia de brincadeira e boa disposição. A repetir em breve, de certeza. :)

verão

A minha relação com os blogues foi quase sempre a de uma espécie de diário (mesmo não o sendo), um registo para um dia olhar, por instantes, para trás. Todos temos a necessidade de, por vezes, nos lembrarmos do caminho feito.
E muito caminho tenho feito eu neste verão. 

Mais uma consulta de ortodôncia e entre uns ferrinhos e uns elásticos, diz o doutor que o processo está a decorrer muito bem. Já olho para fotos antigas e não me reconheço e tenho a certeza que daqui a um ano e picos estou aqui a registar que passei uma hora à frente do espelho a sorrir. :D

As centenas de quilómetros de bicicleta também contam, pois claro. Andar de bicicleta é algo que faço há mais de trinta anos, que aprendi antes de saber ler e escrever e por estes dias tem-me sabido pela vida.

Apesar do tempo não ser nitidamente de verão, tenho feito mais praia do que nos últimos anos. Sabe bem o descanso depois de percorrer uma boa parte da ciclovia. E hoje calhou ter uma das melhores tardes de praia de que tenho memória. Pé na areia, sol q.b., conversas sem rumo certo e umas cidras a passar por nós.

Trago em mim uma largueza de espírito que há muitos anos não via. Sinto-me livre por ter o coração ancorado nos lugares certos.

E na próxima semana, vou passear a pele bronzeada por Paris.


A primeira vez fui em nítido erro de casting, a segunda vez fui a correr e com amigos e a terceira não conta porque foi só de passagem, foi um exemplo excelente de que não alcançarmos o que queremos é, por vezes, um tremendo golpe de sorte.

Às vezes eu tenho a sensação que repito muito os lugares e as paisagens (já estive em Barcelona mais de dez vezes... e tenho saudades), mas há sempre algo para descobrir ou rever noutro ângulo. Certo é que estou para lá de entusiasmada. Esta vai ser uma viagem completamente diferente das que já fiz. Desta vez não há erros de casting. :)

things do get better

Ou a minha reconciliação com o verão. :)
Afinal até ando a acordar cedo e afinal não ando só a ler livros...
E este está a ser o melhor verão de há anos, porque, entre outras coisas boas (nomeadamente o aroma do protetor solar hehehe), o meu coração sabe que não precisa de procurar mais.



Pelo amor dos santinhos todos, besuntem-se

de protetor solar. Mesmo que o céu esteja nublado e que a temperatura seja de 23 graus.
É que eu......... vá........ conheço uma pessoa que foi andar de bicicleta no início da semana, de manhã, com o tempo fresquinho e, mesmo sendo morena, ficou bastante aflita ao nível da epiderme.

Hoje é quinta, certo? (estou de férias, não me obrigem a saber o dia da semana, nem tão pouco do mês) E ainda tenho tem a pele em brasa...
Ai... valham-me as besuntadelas com Caladryl.

Compras online

Antes de mais, vamos a factos:
- Sou lésbica;
- Sou vaidosa;
- Gosto de ter roupas bonitas e femininas;
- Não aprecio muito aquela coisa de andar de loja em loja;
- Desenrasco-me muito bem na net e afins.

Logo a solução óbvia é compras online!

Porém, esta estratégia tem desvantagens.

Não poder experimentar?
Não poder sentir as fibras?
Não... Nada disso.

Simplesmente o facto de eu andar à procura de um bikini e me deparar com esta imagem...




Resultado: distraí-me um bom bocado a pensar que não tenho visto cenas destas na praia do costume, mas é pena.

Voltando à concentração possível. Não gosto de nenhum dos dois. Embora a menina do o bikini à esquerda seja interessante.

Este é o eleito. Acho que também fica bem em morenas.


coisas que o facebook coloca no meu mural



Não sei se é indispensável, mas com material assim uma pessoa dedica-se mais afincadamente ao gosto por viver a natureza. 
E a garrafa também parece ser jeitosa, não é?

a fé na humanidade

Ando há umas semanas a sentir dentro de mim, a esboroar-se, a fé na humanidade. Às vezes por pequenas coisas, outras avultadas e na maior parte das vezes por nada. Porque afinal também se pode pecar por omissão.
De forma que deixei de lado esse assunto, porque talvez não seja exatamente necessário ter fé na humanidade, ou mesmo ter fé de todo.

Certo é que hoje tive um "blind date" de top, daqueles que têm direito a podium. Depois de um dia assim, uma pessoa afeiçoa-se ao optimismo. Bem-hajas! ;)**

infortúnios e dissabores

Os livros trouxeram-me sempre uma certa luz sobre o absurdo da vida, que é como quem diz, sobre as dores. Nuns momentos da vida li muito, noutros andei entretida com as dores ou os amores. Mas mais coisa menos coisa, é sempre a eles que vou desaguar e neles encontro a lucidez e a ordem, que nem sempre se manifesta na vida.
Primeiro descobri Deus e depois os livros. Sendo que estes são consistentemente mais eloquentes, prefiro conversar com os livros.
E quando calha ler muitos ao mesmo tempo, como é agora o caso, voltam-me a brotar dos minutos aqueles impulsos de também eu organizar a existência numa narrativa.
Entretanto, vou continuar a procurar a primeira frase. Só é preciso uma única para começar. Depois o resto sai.
O tema está por definir. Não sei se vou verbalizar acerca de grandes infortúnios e pequenos dissabores ou se pego nos pequenos infortúnios e grandes dissabores.
Depois imprimo e acendo a lareira no inverno.



ébrios, a transbordar da alma

Resumidamente, a canção é sobre uma moça que vai beber até o sol nascer e se vai balançar no lustre. E pelo meio vai viver como se não houvesse amanhã e voar como um pássaro da noite, com o vento a secar-lhe as lágrimas. Quando o sol nasce, ela está num farrapo embebido de vergonha. Mas mesmo assim ela pede "keep my glass full".
Ouvindo isto ad nauseam, pela estrada fora com as árvores a ladearem-me a via larga, penso que a bebedeira havia de ser de vida, de beijos, de pele e de saliva e suor. 
O conta-quilómetros vai somando, mas não na direção desejada.



a obrigação de sermos alegres no verão

Tal como no Natal, gostar do verão é uma coisa obrigatória. 
Ver as luzinhas a brilhar, imaginar a neve da Lapónia e ficar em pulgas com a noite de Natal estão no mesmo patamar de apreciar a areia colada em todas as partes do corpo, de trazermos no corpo sal suficiente para cozinhar 2 ou 3 refeições e de delirar com os chinelos estacionados debaixo da mesa da esplanada. Tudo coisas que não me estimulam porque são coisas que só fazem sentido com companhia. 

Durante uma década, os meus dias de verão foram passados a trabalhar ao sol ou em armazéns que reservavam em si o calor que o sol trazia. Eu gosto de trabalhar, mas não naqueles métiers que tinham sido mais apropriados para um rapaz. 

Depois dessa década, conquistei o direito a férias longe dos trabalhos de puxar pelos músculos. E em casa dos meus pais, lia muito, sobretudo durante a madrugada, para aproveitar o fresco e o silêncio de uma casa que durante o dia parecia um campo de batalha. Foi aí que apanhei o hábito de ler até o sol nascer. 

Ainda hoje mantenho esse hábito porque, nos dias de verão, a solidão cola-se à minha sombra e fica ali a mirar-me com uns olhos de juiz existencial, a apontar-me o que não fiz suficientemente, as vezes em que não estendi a mão e em que amei menos. Mas a história pode e deve ser contada de outra forma, mais verdadeira por sinal.

Durante a madrugada, estou sozinha e em paz, porque toda a gente está a dormir. E a dormir não existimos. A dormir não se ama ou desama ninguém.

Num mundo perfeito, com os primeiros raios de sol, pegava na mão dela e íamos por aí, ao sol ou à sombra. Mas em vez disso, leio livros até o céu ficar claro. Nessa altura vou dormir e acordo quando o sol já começa a fazer a curva descendente. E durmo muito, porque a dormir não sinto a ausência da sua mão.


a fome tem muitos olhos

Quando vi o Presidente da República a desmaiar, lembrei-me logo de muitos momentos deste ano letivo, sobretudo do 1.º período. Em cada aula, havia sempre uns quantos alunos indispostos. Eram dores de barriga, que o pouco leite ao pequeno-almoço não saciou.
«Não havia pão...»
Depois de virem do bar, já estavam melhor.

No outro post, falei dos que andam, felizmente, de barriga cheia e rodeados de confortos diversos.
Mas também estes têm fome.
Até o PR tem fome, como se reparou na avidez com que fez as contas à reforma.

Este país, aliás, este mundo está faminto, uns de pão, outros de afeto, de paz, de justiça, de um lugar com o qual as crianças de olhos brilhantes sonham.

O final do ano é sempre muito intenso e dramático, nalguns momentos. Estou a precisar de uma brisa morna e de uma sombra de árvores em que se possa respirar em sossego.
 





A história

até certo ponto é simples. Uns miúdos de 11 anos não conseguiram reaver uma bola que foi parar a uma casa contígua à escola e decidiram que a melhor forma de se vingarem era atirar pedras à referida casa. Foram à direção, admitiram a asneira e voltaram a mostrar-se culpados à diretora de turma. Consideraram as crianças que o melhor era ressarcir o valor do vidro e pedir desculpas ao dono da casa. Até aqui, menos mal.

Passados uns dias, os respetivos pais chegam à escola a gritar, a duvidar da forma de questionamento que se fez às crianças, a referir tamanhos de pedras ("a minha só amandou uma pequenina e não podia ter acertado no vidro"), a justificar a atitude das crianças com a raiva de não terem visto devolvida a bola, entre outros arrazoamentos.
Quando deixei à consideração da consciência deles o pagamento do vidro, avançaram com o dinheiro...
Relativamente ao pedido de desculpas... uma vergonha. Se um filho meu fizesse aquela figura no contexto, levava um par de estalos (em casa, que é onde se educam as crianças).
Os miúdos estavam com o ar de quem vai à feira comer algodão doce. Tinham as costas quentes e não era do sol. No terreno do dono da casa, os pais questionaram-no com ar autoritário acerca do tipo de vidro substituído ("este é diferente, é melhor" - e não era nada...), sobre bolas e pedras e minutos exatos do estilhaços.

Eu até gosto de ser professora, quer dizer, de ensinar Português e Inglês. Palavra que gosto. Mas não me cabe ensinar que atirar pedras aos outros e aos seus bens não é correto, nem legal.
Hoje é um daqueles dias em que uma pessoa perde a fé toda na humanidade, nos valores da verdade e do bem.

Fazem o que querem, manipulam as palavras e os factos e explicam com as mais refinadas teorias o que não tem justificação nem desculpa.

to build a home

Se a minha vida tivesse uma banda sonora, esta música estaria logo nas primeiras faixas.
Já vivi muito tempo numa casa que na verdade era mais um campo de batalha.
Já vivi numa casa que era mais uma garagem húmida.
Já vivi numa casa onde me esqueci da foto mais preciosa que tinha: eu e os meus irmãos. Tinha eu uns 7 anos. Eu com o olhar de irmã mais velha, o mais novo com um ar de espantado e pronto para a vida e o do meio, com o sorriso que só os tímidos conseguem desenhar.
Já vivi numa casa de três assoalhadas no meio da planície alentejana, em que fumava cigarros e lia livros, rodeada de uma solidão imensa.
Já vivi numa casa de dois andares só para mim, em pleno Algarve. Foi aquela onde passei menos tempo, mas onde fui feliz.
Já planeei e vi nascer uma casa. A paixão tremenda calou a voz que me dizia que aquela não era para mim.
Já comprei uma casa numa cidade onde não tenho nem um familiar, mas que fui fazendo de minha, a cidade e a casa. Lembro-me que passaram seis meses entre o momento em que cá dormi pela primeira vez e pela primeira vez entrei sentindo-a como o meu lar. Eu própria lhe pintei as paredes várias vezes até encontrar as cores certas, mas ainda não acertei numa, a mais importante.
Por agora é a minha (e do gato, dono e senhor de mais de metade do espaço lol ).
Mas tenho uma ideia diferente para os anos que hão de vir.
Já fiz nascer várias casas por aí e ainda tenho energia para mais uma.





gosto

de manhãs nascem límpidas assim e dos dias que terminam com o aroma cálido da terra e das árvores.


call me unrealistic

To be happy, you have to be a little unrealistic. 
You have to believe that something totally different than what has happened for an eternity CAN happen starting now.

OK computer



O computador a fazer conversa de circunstância...

ora zumba

Não vale a pena convidarem-me para uma aula de zumba porque geralmente o tipo de exercício físico de que eu gosto não pode envolver títulos de canções muito populares do final da década de 70, em que se apela à bebedeira.

sair a tempo

Dizem que o timing é tudo. E se calhar é.
Tal como todos os seres humanos, também eu me detive tempo demais onde não devia. Todos já vivemos situações em que nos foram tirando a energia vital em suaves prestações. Em que nos foram cansando o coração e esquecendo-se de nós nas horas da nossa inquietação. 
Felizmente que a vida não é sempre assim. Que há equilíbrio e simetria suficientes para sorrirmos de manhã e rirmos à tarde e à noite. Que há mãos que seguramos e que conhecemos bem, porque também já as segurámos em tempos de desamparo. 

Dizia-me no outro dia uma amiga de quase duas décadas que eu estou mais eu de há uns tempos para cá. Que agora sim, me reconhece no sentido de humor afinado, na risota pegada em que nos metemos quando conversamos e no sorriso mais constante e insistente. Para além daquilo que as amigas verdadeiras nos dizem de coração "Estás mais bonita, mais desempoeirada, mais leve e mais em forma".

E é verdade. Profissionalmente estou a viver um momento dourado, saí do armário para os meus melhores amigos (de quem fiquei ainda mais próxima) e tenho no coração a paz e a alegria para viver e sorrir feliz durante os dias e para fazer rir e sorrir quem me rodeia. E se me perguntarem do que é que eu gosto mesmo de fazer, não tenho dúvidas. É de espalhar alegria e sorrisos. 
Nos meus melhores momentos, tenho energia suficiente para fazer o impossível. A questão é que já me deixei usar, como se fosse um gerador que alimenta, que põe de pé, que dá corda ao boneco para fazer mais uma milha. E palavra de honra que isso não me apoquenta, desde que não me enruguem o coração.

Uma das coisas que mais me custou aprender foi sair quando era tempo de sair. Não gosto de despedidas, não tenho jeito para despedidas, mas às vezes tem de ser. E o truque é nem cedo, nem tarde demais. No momento certo.

Lembro-me bem de uma altura em que saí tarde demais e mal ia saindo viva.

Este fim de semana, calhou ver uma foto de alguém de quem me despedi porque me enrugou repetidamente o coração. E enfim, um boneco desinsuflado que mal se põe de pé e que nem meia milha faz. Honestamente, isso deixa-me triste. Claro que sim. 
Se eu podia ter ficado em modo de gerador de noite e de dia? Podia, mas não seria a mesma coisa para mim.








Triunfo do Amor Português

"O amor é sempre trágico quando atinge o seu estado mais puro. Inflama-se com a individualidade, os atributos de sedução, os desejos que são uma passagem para a felicidade. Mas, porque espera superar a individualidade, o amor é trágico."

Agustina Bessa-Luís, in Triunfo do Amor Português, de Mário Cláudio

idiota


sim, de vez em quando idiota, como quando nas noites em que estendia os braços e ninguém,
conforme caminhava na rua e me demorava, quase olhando para trás, dando a mão a ninguém, soube depois que ninguém
e se nenhuma mão para segurar, idiota
entrava o dia com o sol a querer pôr tudo como novo, tal como na retrosaria os paninhos brancos e se calhar não tão brancos, dado o pó
conforme o pó se ia soltando de mim e caía no sofá, nas cadeiras e na cama onde ninguém
idiota
nada branco
talvez os lençóis dos hotéis brancos, sabe deus à custa de que temperaturas e fricções
lençóis onde nenhum coração branco, apesar das temperaturas e fricções
nenhum coração branco tendo em conta todos aqueles dias em que o sol entrou a querer pôr tudo novo e ninguém


Oração ao Criador



  Isto a propósito do post anterior e porque estamos em tempo pascal.
Cada um reza como sabe,ok?

mortais, graças a deus (?)

Quando penso em falecimentos, lembro-me logo da célebre piada contada pelo Woody Allen.

Estão duas velhotas refasteladas num resort daqueles mesmo bons e, fazendo conversa depois do almoço, uma diz para a outra:
- Bolas que a comida aqui é mesmo ruim...
- Sem dúvida. E as doses são tão pequenas...

Dizia o Woody que este pequeno diálogo transparece exatamente o que a vida é numa boa parte das vezes: uma sacana que nos dá dores e sofrimentos, mas tão curtinha, ó tão curtinha, valha-nos deus.

Agora imaginem isto.
Imaginem que daqui em diante podiam escolher o sonho que podiam sonhar. Estou em crer que a maior parte dos seres humanos escolhia um enredo perfeito, onde tudo corria de feição, sem arrelias nem contratempos. Ora este sonho é coisa de dar um acordar daqueles em que uma pessoa ainda nem abriu a pestana e já está feliz.

Mas passadas algumas semanas, estavámos a ansiar por um elemento de surpresa, qualquer coisa que nos espantasse ou desafiasse. 

E passadas ainda mais semanas, estávamos a desejar ainda mais peripécias, daquelas coisas que fazem acelerar um bocadinho o ritmo cardíaco.

A certa altura, dávamos por nós a sonhar com a vida tal como ela é, cheia de peripécias, de espantos, surpresas e contratempos. Só porque somos criaturas assim mesmo, desejosas de aventuras e de desafios. E é na aventura final que nos finamos.

Agora, falando de imortalidade.
Mas quem é que quer ser imortal? Honestamente.
Ninguém, senhores. Ninguém quer ser imortal.
O que é que o ser humano quer na verdade?
Eu tenho a minha ideia, a registar num post futuro.


neither can I



 



- And ginger.

- Ginger, Madam...?

- I'd like to give the children a treat.

- We'll have to go to London for ginger, Madam. I haven't finished this, and there's the rest of lunch to get ready.

- The 12.30 train, Nelly, will get you into London just after one. If you return on the 2.30, you should be back in Richmond soon after 3. Do I miscalculate?

- No...

- Well then, is something detaining you, Nelly? I can't think of anything more exhilarating than a trip to London.