Ao longo destes quase 5 anos a tentar aprender a serenar, apaziguar e aprofundar a mente através de técnicas de meditação budista, muitos "mestres" me inspiram e me ajudam a crescer.

Calhou estas semanas, repescar uns ficheiros audio da Pema Chodron, monja da tradição tibetana. Tem dois filhos, dois netos e já foi casada, mas o casamento terminou abruptamente e um pouco contra a vontade dela.

Pema Chodron tem palestras absolutamente inspiradoras. Lembro-me de as ter tentado ouvir há uns anos e de não encontrar sentido para o que ela dizia. O problema não estava em mim. Aliás, não havia problema. Era uma questão de caminho. É que para chegar ao ponto C é preciso ter passado por B.

Não há nada de errado com tudo o que nos acontece. É só uma questão de percurso. 
Aquilo que, à primeira vista, nos parecem desencontros são encontros muito bem sucedidos. 
O que é preciso é continuar a trilhar (e a respirar, respirar sempre), porque mais à frente vamos conseguir dizer "eureka", porque encontrámos, não talvez o que queríamos, mas exatamente o que precisávamos. 
 
«Now, many years later, I can see how badly matched my ex-husband and I were, and how we were so unprepared, at that stage in our lives, to give each other what we needed in a relationship.  I no longer blame him or me for the hurtful choices we made, but I did learn how a good relationship requires the kind of communication we didn’t have.»
 Pema Chodron

We saw your boobs

Pretty good.


random about the Oscars

Argo - Estava-se mesmo a ver, não...? O ego norte-americano é como uma cadelinha nervosa que eu conheço: precisa de ser afagado frequentemente. Gosto muito mais da cadelinha.
Vida de Pi - Nada mal, nada mal. Gosto do Ang Lee porque nos deu o Brokeback Mountain e agora esta fábula sobre os nossos adversários interiores.
Beasts of the Southern Wild - Para mim, o cinema é sobretudo sobre emoções, sobre a capacidade de nos transmitir emoções universais e positivas. Por isso, é que este filme me tocou tanto.Once there was a Hushpuppy!
Adele - Deixa-me dizer-te uma coisa... Quero ver-te o decote, ok? 
Jennifer Lawrence - A rapariga tem pouco jeito para subir escadas, mas ascendeu rapidamente em Hollywood. E eu não entendo porquê.
Christoph Waltz - O homem estava brilhante em Django. Merecidíssimo!
Seth Macfarlane - Gosto muito mais de o ver na apresentação dos Oscars do que de o ouvir em Family Guy, não por ele, mas por causa das personagens. Ele é engraçado, dança, canta e sorri com os olhos.
Helen Hunt - The sessions... A Helen é adorável. Em junho, faz 50 anos e continua adorável.
Meryl Streep - Tivesse ela nascido na década de setenta e tivéssemo-nos cruzado, eu pedia-a em casamento. Palavra de honra.

Como só vi o início, para tentar dormir umas horas decentes (não conseguidas, unica e exclusivamente por causa de umas insónias bravias), fica este vídeo, "We saw your boobs":





apetece-me um volvo

Esqueçam a publicidade de carros com pais e mães e filhos. Já há algum tempo que este anúncio me chama a atenção, pela mensagem que fica subentendida.


Às vezes tenho 10 anos, outras vezes 100. E noutras ainda, as mais sublimes, esqueço a idade que tenho. Geralmente ao pé de ti. Esqueço-me de muitas mais coisas, daqueles esquecimentos que são uma bênção, porque é suposto acontecerem.
Não é bem a história de envelhecermos juntas (dos cabelos brancos, das mãos enrugadas e entrelaçadas) porque o que eu quero é dar-te a mão durante muito tempo, num tempo sem relógios.


Sexo oral


Primeiro a tua língua molha o meu
coração, num vagar de fera. Estendo
aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre
os copos que desaparecem. Não há mais
ninguém no bar cheio de gente. Abres-me agora os
pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-
-me. O laser das tuas palavras rasga-me o lobo
frontal do cérebro. A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se, avançando
por dentro da minha cabeça. As minhas cidades
ruem como rios, correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo
preso das nossas retinas. O empregado do bar
retira da mesa o nosso passado e arruma-o na vitrina,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
abrindo e fechando as pernas
das palavras, estremecendo no suor dos
olhos abraçados, fazendo sexo
com a lava incandescente dessa revolução
imprevista a que damos o nome de amor.


Inês Pedrosa
 

tables and chairs



There is a house built out of stone
Wooden floors, walls and window sills
Tables and chairs worn by all of the dust
This is a place where I don't feel alone
This is a place where I feel at home
 

o amor em todo o lado e o amor em lado nenhum

Mais uma noite, mais um pesadelo. 
Sonhei que o mundo estava a acabar. Soube-se com algumas horas de antecedência e eu decidi ir fazer sopa (acho que era de agrião).

Já há algum tempo que deixei de sonhar com a casa dos meus pais. Agora sonho com outras, que nunca vi antes. 

De onde vêm os pesadelos?
A segunda-feira até foi boa. Passei-a com uma da pessoas de que mais gosto e que me devolve esse afecto envolvente. Estivemos a falar do tutato da vida, do amor. Do amor em todo o lado e do amor em lado nenhum.

Antes de acordar, estava a lavar legumes. 
Pelo menos, estava a casa cheia. Não sei que casa era aquela, não era a dos meus pais, nem dos meus avós. 
Para mim, o Amor é sempre uma casa, é sempre numa casa. 
Tenho fome de casa como de sopa e de pão. 
E quando digo que quero mudar de casa, não é de paredes que falo. É de habitar totalmente numa casa, como nunca consegui habitar a minha. Numa casa com braços, mãos, pernas, pés, olhos, mãos.

No Masterchef Australia, os concorrentes recebem uma "caixa mistério", com ingredientes escondidos debaixo de uma pequena arca de madeira. Com o tempo contado, eles têm de confecionar um prato que agrade ao palato dos jurados, utilizando apenas os ingredientes fornecidos. Primeiro, eles têm uns minutos de "suspense" e ansiedade em que ficam ali a olhar para a madeira, naturalmente opaca, e, autorizados a levantar a caixa, vê-se no olhar deles inúmeras receitas e resultados finais a passar-lhes na retina. A maior parte consegue fazer coisas absolutamente espantosas e diversas entre si. Raramente se repete um prato. É um misto de energia, de criatividade, de esforço, de imaginação e coragem.

Eu perdia isto na primeira ronda.
A vida é um bocado assim: recebemos uma série de ingredientes e fazemos com eles o melhor que sabemos.
Até com uns limões, um jarro de água e um punhado de açúcar, eu perdia isto. 

Às vezes

o melhor caminho é parar no momento certo.

Beirut



If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we dream to die
We dream tonight

nos livros

uma das coisas que mais me comove

não é a história, ou as personagens, ou o artifício literário

mas é geralmente a dedicatória
há poucas coisas mais comoventes na literatura como as dedicatórias


"For Alicia—la raison"

in Silver Linings Playbook, Matthew Quick

words and kisses



E o filme mais longo é...

Django Unchained - 165'
Les Misérables - 158'
Zero Dark Thirty - 157'
Lincoln - 150'
Life of Pi - 127'
Amour - 127' 
Silver Linings Playbook - 122'
Argo - 120'
Beasts of the Southern Wild - 93'

******

Os realizadores estão a perder a capacidade de contar uma [boa] história em hora e meia, 
ou é impressão minha? 

chegar ao fim sem se ter começado

Uma pessoa larga o facebook de vez em quando e dedica-se à leitura de textos sublimes, como este do Lobo Antunes, o qual tem de ser devidamente doseado na minha vida, porque - não é por mais nada - me dá uma vontade de abrir documentos em word que tenho por aqui e desatar a escrever linhas. Desatar é uma boa palavra, porque, se uma pessoa se põe a desatar, o difícil é parar, dados os nós. Nós?
Eu que pensava, durante estes anos todos, que o mais custoso era rematar as coisas - nunca os inícios ou os desenvolvimentos, mas o fim - dou por mim a pensar que o começo é o mais exigente, isto se me puser a pensar no desenvolvimento ou no fim.

O primeiro gomo da tangerina*

Todos vieram
Ver a menina
Ao primeiro gomo da tangerina
Menina atenta
Não experimenta
Sem primeiro
Saber do cheiro
O sabor nos lábios
Gestos sábios

Fruta esquisita
Menina aflita
Ao primeiro gomo da tangerina
Amarga e doce
Como se fosse
Essa hora
Em que chora
E depois dobra o riso
E assim faz seu juízo

Sumo na vida
É o que eu te desejo
Rumo na vida
Um beijo 
Um beijo

Ah, que se lembre
Sempre a menina
Do primeiro gomo da tangerina
P'la vida dentro
É esse o centro
Da parcela da vitamina
Que a faz crescer sempre menina

A terra é grande
É pequenina
Do tamanho apenas da tangerina
Quem mata e morre
Nunca percorre
Os caminhos do que há de melhor
Nesse sumo
A vida, gomo a gomo

Sumo na vida
É o que eu te desejo
Rumo na vida
Um beijo
Um beijo


Sérgio Godinho

* Como homenagem à Tangerina, que é minha prima, não das afastadas, porque as coisas sumarentas são de manter por perto.

Lila



Se conseguirem ouvir isto sem dançar, 
faço-vos uma vénia.


saudade

Não temos saudades, 
é a saudade
que nos 
tem. 

Eduardo Lourenço

doctor blind



My baby’s got the lonesome lows
don’t quite go away overnight
doctor blind just prescribe the blue ones
if the dizzying highs
don’t subside overnight
doctor blind just prescribe the red ones