ora zumba

Não vale a pena convidarem-me para uma aula de zumba porque geralmente o tipo de exercício físico de que eu gosto não pode envolver títulos de canções muito populares do final da década de 70, em que se apela à bebedeira.

sair a tempo

Dizem que o timing é tudo. E se calhar é.
Tal como todos os seres humanos, também eu me detive tempo demais onde não devia. Todos já vivemos situações em que nos foram tirando a energia vital em suaves prestações. Em que nos foram cansando o coração e esquecendo-se de nós nas horas da nossa inquietação. 
Felizmente que a vida não é sempre assim. Que há equilíbrio e simetria suficientes para sorrirmos de manhã e rirmos à tarde e à noite. Que há mãos que seguramos e que conhecemos bem, porque também já as segurámos em tempos de desamparo. 

Dizia-me no outro dia uma amiga de quase duas décadas que eu estou mais eu de há uns tempos para cá. Que agora sim, me reconhece no sentido de humor afinado, na risota pegada em que nos metemos quando conversamos e no sorriso mais constante e insistente. Para além daquilo que as amigas verdadeiras nos dizem de coração "Estás mais bonita, mais desempoeirada, mais leve e mais em forma".

E é verdade. Profissionalmente estou a viver um momento dourado, saí do armário para os meus melhores amigos (de quem fiquei ainda mais próxima) e tenho no coração a paz e a alegria para viver e sorrir feliz durante os dias e para fazer rir e sorrir quem me rodeia. E se me perguntarem do que é que eu gosto mesmo de fazer, não tenho dúvidas. É de espalhar alegria e sorrisos. 
Nos meus melhores momentos, tenho energia suficiente para fazer o impossível. A questão é que já me deixei usar, como se fosse um gerador que alimenta, que põe de pé, que dá corda ao boneco para fazer mais uma milha. E palavra de honra que isso não me apoquenta, desde que não me enruguem o coração.

Uma das coisas que mais me custou aprender foi sair quando era tempo de sair. Não gosto de despedidas, não tenho jeito para despedidas, mas às vezes tem de ser. E o truque é nem cedo, nem tarde demais. No momento certo.

Lembro-me bem de uma altura em que saí tarde demais e mal ia saindo viva.

Este fim de semana, calhou ver uma foto de alguém de quem me despedi porque me enrugou repetidamente o coração. E enfim, um boneco desinsuflado que mal se põe de pé e que nem meia milha faz. Honestamente, isso deixa-me triste. Claro que sim. 
Se eu podia ter ficado em modo de gerador de noite e de dia? Podia, mas não seria a mesma coisa para mim.








Triunfo do Amor Português

"O amor é sempre trágico quando atinge o seu estado mais puro. Inflama-se com a individualidade, os atributos de sedução, os desejos que são uma passagem para a felicidade. Mas, porque espera superar a individualidade, o amor é trágico."

Agustina Bessa-Luís, in Triunfo do Amor Português, de Mário Cláudio

idiota


sim, de vez em quando idiota, como quando nas noites em que estendia os braços e ninguém,
conforme caminhava na rua e me demorava, quase olhando para trás, dando a mão a ninguém, soube depois que ninguém
e se nenhuma mão para segurar, idiota
entrava o dia com o sol a querer pôr tudo como novo, tal como na retrosaria os paninhos brancos e se calhar não tão brancos, dado o pó
conforme o pó se ia soltando de mim e caía no sofá, nas cadeiras e na cama onde ninguém
idiota
nada branco
talvez os lençóis dos hotéis brancos, sabe deus à custa de que temperaturas e fricções
lençóis onde nenhum coração branco, apesar das temperaturas e fricções
nenhum coração branco tendo em conta todos aqueles dias em que o sol entrou a querer pôr tudo novo e ninguém


Oração ao Criador



  Isto a propósito do post anterior e porque estamos em tempo pascal.
Cada um reza como sabe,ok?

mortais, graças a deus (?)

Quando penso em falecimentos, lembro-me logo da célebre piada contada pelo Woody Allen.

Estão duas velhotas refasteladas num resort daqueles mesmo bons e, fazendo conversa depois do almoço, uma diz para a outra:
- Bolas que a comida aqui é mesmo ruim...
- Sem dúvida. E as doses são tão pequenas...

Dizia o Woody que este pequeno diálogo transparece exatamente o que a vida é numa boa parte das vezes: uma sacana que nos dá dores e sofrimentos, mas tão curtinha, ó tão curtinha, valha-nos deus.

Agora imaginem isto.
Imaginem que daqui em diante podiam escolher o sonho que podiam sonhar. Estou em crer que a maior parte dos seres humanos escolhia um enredo perfeito, onde tudo corria de feição, sem arrelias nem contratempos. Ora este sonho é coisa de dar um acordar daqueles em que uma pessoa ainda nem abriu a pestana e já está feliz.

Mas passadas algumas semanas, estavámos a ansiar por um elemento de surpresa, qualquer coisa que nos espantasse ou desafiasse. 

E passadas ainda mais semanas, estávamos a desejar ainda mais peripécias, daquelas coisas que fazem acelerar um bocadinho o ritmo cardíaco.

A certa altura, dávamos por nós a sonhar com a vida tal como ela é, cheia de peripécias, de espantos, surpresas e contratempos. Só porque somos criaturas assim mesmo, desejosas de aventuras e de desafios. E é na aventura final que nos finamos.

Agora, falando de imortalidade.
Mas quem é que quer ser imortal? Honestamente.
Ninguém, senhores. Ninguém quer ser imortal.
O que é que o ser humano quer na verdade?
Eu tenho a minha ideia, a registar num post futuro.


neither can I



 



- And ginger.

- Ginger, Madam...?

- I'd like to give the children a treat.

- We'll have to go to London for ginger, Madam. I haven't finished this, and there's the rest of lunch to get ready.

- The 12.30 train, Nelly, will get you into London just after one. If you return on the 2.30, you should be back in Richmond soon after 3. Do I miscalculate?

- No...

- Well then, is something detaining you, Nelly? I can't think of anything more exhilarating than a trip to London.

doçura

Ao vermos uma pessoa a falar com o seu animal de estimação, ficamos a conhecer o seu lado mais doce. E é das coisas mais giras: ver pessoas geralmente com um ar muito sério a dizerem "quem é o mais lindo, o mais fofo?"

- Mas ó Laranja, e os filhos, os bebés? As pessoas também são doces com os bebés!


Mas os bebés são da nossa espécie. Além disso, as pessoas (sobretudo os pais) olham para o bebé e veem logo um futuro de alegrias diversas que aquele pequeno ser há de trazer.

Já de um gato... O que se pode esperar de um gato? Muito poucas coisas.

grande concerto!



O sotaque escocês delicioso que a mulher tem!
E há muito mais de delicioso de onde o sotaque veio.

dia de em todos os dias

Dizem que hoje é o dia do beijo. Beijos são uma coisa boa e isso nem se põe em discussão.
Mas o abraço, meus queridos leitores, o abraço...
Eu nem sempre fui uma pessoa de abraços. Aprendi-o com os meus melhores amigos, aqueles que me recebem com um abraço quando nos reencontramos.
E há dias em que, mais do que um beijo, aquilo que sabe mesmo bem é um abraço apertado, daqueles que seguram, mas não prendem, que envolvem mas não apropriam. Daqueles que duram mais do que dois segundos e que dizem "eu acolho-te, a ti e a tudo o que há em ti".