avulso

- Antigamente, os meus pais pagavam ao padre para poderem comer carne na quaresma.
- Não... Os teus pais pagavam para o padre conseguir comer carne...

(As coisas conversas num refeitório escolar correm muito melhor quando o almoço é bacalhau espiritual. Ficámos muito mais espirituosos.)

mudar de pele

Eu não tenho muitos amigos próximos. Conhecidos com quem viajo, brinco e digo palermices são dezenas, mas as pessoas de quem gosto mesmo sem emoções contraditórias, que contemplo com o coração cheio, aqueles por quem saio de casa no meio da chuva, enfrentando estradas e autoestradas, para ouvir contar ao vivo um pesadelo que sobressaltou, para dar um abraço porque as palavras não saem, para dar uma mão (ou as duas) são pouco mais de meia dúzia. E felizmente que nos últimos tempos o grupo tem tido tendência para aumentar.
Hoje calhou encontrar-me com a Justiça e um bully sem escrúpulos por uma dessas pessoas. E houve vitória. Fomos celebrar juntos e depois fui celebrar sozinha de uma das formas que mais gosto: comprar roupa e calçado. Na verdade, também gosto de livros e de gadgets eletrónicos, mas desses agora tenho de sobra.
Não sendo uma pessoa exatamente vaidosa, havia uma coisa que me inquietava o espírito de vez em quando. O meu casaco preferido foi comprado num tempo (há muito tempo) em que eu conjugava os verbos no plural e palavra de honra que tenho procurado nos últimos cinco anos um casaco que destronasse aquele. Até porque dez quilos a menos notam-se. O corpo não é o mesmo e o espírito também não. Experimentei vários, investi nuns quantos, mas nada era como o outro.
Acontece que encontrei um casaco lindo, confortável, que assenta como uma luva e numa loja que nem costumo frequentar. É perfeito. Antes de o vestir, já sabia que é perfeito.
Aproveitei e trouxe umas camisolas a condizer.
Porém, hoje ainda não é o dia em que me vou tornar uma fashion blogger e postar as fotos das botas, sapatos, cachecol, camisolas e casacos que comprei.
Reparei que os pessegueiros começam a florir e que o sol aquecia a pele com uma doçura serena.
E porque esta música marcou o ritmo das compras, deixo-a aqui.



Excelsior



“In my arms is a woman who has given me a Skywatcher's Cloud Chart, a woman who knows all my secrets, a woman who knows just how messed up my mind is, how many pills I'm on, and yet she allows me to hold her anyway. There's something honest about all this, and I cannot imagine any other woman lying in the middle of a frozen soccer field with me - in the middle of a snowstorm even - impossibly hoping to see a single cloud break free of a nimbostratus.”
― Matthew QuickThe Silver Linings Playbook

Felicidade

"Happiness is when what you think, what you say, and what you do are in harmony."
Mahatma Gandhi

moves me



Faz parte de um anúncio comercial, mas esta peça é sublime e fez parte
de uma semana com bastante música e em que foi muito mais fácil reparar nas coisas bonitas
e suster o coração de emoções boas.
Para ouvir daqui até à primavera e depois dela,
porque a primavera pode ser já amanhã. Ou hoje.
Há algo de profundamente extraordinário e mágico nas árvores a florirem.
 

seasons

And you would accept the seasons of your heart just as you have always accepted that seasons pass over your fields and you would watch with serenity through the winters of your grief.
-- Kahlil Gibran

through the streets of cities

«Your body in small rooms and large rooms, your body walking up and down stairs, your body swimming in ponds, lakes, rivers, and oceans, your body traipsing across muddy fields, your body lying in the tall grass of empty meadows, your body walking along city streets, your body laboring up hills and mountains, your body sitting down in chairs, lying down on beds, stretching out on beaches, cycling down country roads, walking through forests, pastures, and deserts, running on cinder tracks, jumping up and down on hardwood floors, standing in showers, stepping into warm baths, sitting on toilets, waiting in airports and train stations, riding up and down in elevators, squirming in the seats of cars and buses, walking through rainstorms without an umbrella, sitting in classrooms, browsing in bookstores and record shops (R.I.P.), sitting in auditoriums, movie theaters, and concert halls, dancing with girls in school gymnasiums, paddling canoes in rivers, rowing boats across lakes, eating at kitchen tables, eating at dining room tables, eating in restaurants, shopping in department stores, appliance stores, furniture stores, shoe stores, hardware stores, grocery stores, and clothing stores, standing in line for passports and driver’s licenses, leaning back in chairs with your legs propped up ondesks and tables as you write in notebooks, hunching over typewriters, walking through snowstorms without a hat, entering synagogues and churches, dressing and undressing in bedrooms, hotel rooms, and locker rooms, standing on escalators, lying in hospital beds, sitting on doctors’ examination tables, sitting in barbers’ chairs and dentists’ chairs, doing somersaults on the grass, standing on your head on the grass, jumping into swimming pools, walking slowly through museums, dribbling basketballs in playgrounds, throwing baseballs and footballs in public parks, feeling the different sensations of walking on wooden floors, cement floors, tile floors, and stone floors, the different sensations of putting your feet on sand, dirt, and grass, but most of all the sensation of sidewalks, for that is how you see yourself whenever you stop to think about who you are: a man who walks, a man who has spent his life walking through the streets of cities.»
Paul Auster, Winter Journal
 

dentro do inverno


Este inverno está demasiado invernal. Outros invernos houve com primaveras e verões lá dentro, mas neste inverno vai cabendo apenas o inverno. E nem de outra coisa estou à espera, porque a verdade é que uma pessoa se vai cansando de esperar o sol quando ele não vem (ou mesmo de correr atrás dele através das longitudes), nomeadamente de preparar a bicicleta ou os patins para nos fazermos à rua e vermos apenas pequenos rios tristes no alcatrão, que anunciam pés molhados e febres inúteis.
Faz frio em todo o lado e a chove mesmo nos dias de céu limpo.

Diário de inverno




«... for each scar is the trace of a healed wound, and each wound was caused by an unexpected collision with the world—that is to say, an accident, or something that need not have happened, since by definition an accident is something that need not happen. Contingent facts as opposed to necessary facts, and the realization as you look into the mirror this morning that all life is contingent, except for the one necessary fact that sooner or later it will come to an end
Paul Auster, Winter Journal
 

Bruno Mars meets The Police



A primeira música orelhuda de 2013.
(Sempre é melhor do que ouvir a Adele non stop na rádio... digo eu, c'os nervos)
Brevemente temos a versão traduzida, cantada por mim ao volante, a 100/h, que é como eu gosto de testar a profundidade das letras. (Funcionou com a Adele...)

all my heart is capable of



uma ruína não é um palácio

Aquilo que mais impressiona em Roma é a quantidade de estímulos. Sensoriais, intelectuais e até (porque não...) religiosos. É muita coisa junta no mesmo espaço e demora-se algum tempo a absorver aquilo tudo. Regressei há dias e tenho sonhado todas as noites com as ruínas romanas.
Como cheguei gripada, tenho aproveitado o tempo para ver documentários que deveria ter visto antes de ir, mas que o espírito da altura não deixou. Fui para Roma como quem foge do Natal, porque essa é uma altura em que as emoções perturbadoras ficam todas à superfície e às vezes mudar de espaço ajuda.
Se me apaixonei por Roma? Não propriamente. É uma cidade construída demasiadamente sobre o sangue e a ambição do poder. São-no todas, é certo, mas Roma é excessiva nisso.
Aquilo de que mais gosto é do lado engenhoso do império romano. O facto de terem inventado o cimento, de terem aperfeiçoado o arco, de terem construído o primeiro sistema de esgotos e de distribuição de água, a primeira estrada, e por aí fora.
Dentro da Basílica de São Pedro, lembro-me do apóstolo com um só deus, e de Constantino que achou mais conveniente adorar apenas uma divindade em vez de andarem ali a construir templos para cada um dos caprichosos deuses pagãos.
Na Capela Sistina, reparo na forma como Michelangelo pintou de forma sublime a história de uma religião cujo líder atual ainda há umas semanas condenava a homossexualidade. E sim... vi o Papa.
Gostei das praças, das fontes, da escultura, da pintura, dos tipos de mármore usados nas igrejas, das ruínas e das italianas. São bonitas a valer!
Na cidade eterna, poucas coisas foram eternas. Uma residência áurea deu lugar a um coliseu, um templo pagão transformou-se em igreja e os governantes seguiram-se vorazes, um após o outro. 
Parei no mercado de Trajano para imaginar o movimento das cento e tal lojas da altura; no Circo Máximo, ouvi a populaça a gritar pelas quadrigas.
Caminhei na Via Appia sozinha e decidi que a próxima cidade a visitar é Londres, provavelmente a solo.


Mas antes de tudo isso, logo no início, fui à Fonte de Trevi formular os desejos para 2013.
Saúde, amor e paz.
Feliz 2013 para vocês. :)


A cidade eterna





Impressionante! Imponente! Arrebadora! Excessiva!

E agora vou ali gastar as energias que consumi em forma de pizza e pasta. :)