Há músicas

que me fazem companhia há muito tempo.
Antony and the Johnsons é música de outono definitivamente.  



matching

Ouvi uma vez algures que o sucesso de uma relação amorosa é encontrar alguém com fantasmas e dores que se deem bem com os nossos. 
Este é um assunto que me dá que pensar de há uns anos para cá, porque cada pessoa tem uma certa dose de sofrimento no espírito e uma determinada história de abandonos ou de frustrações emocionais. Aquilo a que comummente se chama de bagagem. Aqui a minha memória traz à tona uma imagem da cultura televisiva, da série "How I met your mother", em que Ted imagina essa bagagem como uma coisa física, vísivel e palpável, que cada um carrega, empurra ou puxa como pode. É uma cena bem engraçada. 

No meu caso pessoal. Eu não tive uma infância fácil e mesmo dito assim é eufemismo. Não estou a falar de contrariedades de princesa. Falo de coisas sérias e graves, que musculadamente tentei ultrapassar das mais variadas formas, e apesar delas tornei-me numa pessoa dócil, pacífica, sensível, conciliadora, capaz de se colocar na pele dos outros e de lhes dar a mão. Resiliência, talvez. E o afeto daqueles que passam por bem na minha vida.

Eu já me apaixonei por dois opostos. 
Por alguém que tinha tido uma história de vida rodeada de afetos, alguém que se sentia inequivocamente amada pelas pessoas que a rodeavam. Nunca senti que essa pessoa tenha entendido verdadeiramente o pequeno inferno de onde vim, preferia até nem perguntar muito.
E já me apaixonei por alguém que como eu foi muito mal amado, no mínimo esquecida num canto da fotografia familiar. À primeira vista, uma pessoa sente uma irmandade fora do comum, uma cumplicidade incrível das frases meio ditas, uma espécie de "tu sabes o que eu quero dizer". 
Mas esta paixão também não me levou a porto seguro. 

Acho que a forma como fomos amados influencia a capacidade de amar e se se sentir amado, mas a relação entre as duas não é tão direta como isso.
Como andamos sempre a tentar fugir do sofrimento, julgo que amar é uma decisão, em última análise. Nós decidimos amar alguém porque achamos que vamos sofrer menos ao pé daquela pessoa, porque achamos que a nossa existência terá um equilíbrio mais justo entre alegrias e dores, sendo que destas últimas sabemos que não podemos escapar. E se passarmos por elas com alguém a dar-nos a mão, não deixamos de as sentir, mas o calor da pele de outra pessoa por perto faz alguma diferença, porque, embora tudo o que nos acontece, acontece somente debaixo do nosso couro cabeludo, temos um sistema nervoso periférico.



under pressure

Infelizmente nos últimos tempos tenho visto alguns amigos e conhecidos meus a irem pela primeira vez, ou depois de muito tempo, a um psiquiatra, de onde saem com o diagnóstico "depressão".
Vinha a pensar nisto hoje e no facto de, ao fim do dia, ser completamente diferente chegar a uma casa com as luzes apagadas e uma em que as luzes já estejam acesas. Não quero com isto dizer que vou começar a engordar mais os lucros da edp durante o dia... You know what I mean...
Por outro lado, mesmo antes da crise chegar já eu tinha o diagnóstico e a receita aviada. Assim não caio tão espalhafatosamente. Infelizmente tem sido a minha rede nos últimos anos e não faço ideia até quando o será, mas cada dia que passa estou mais perto de andar no trapézio livremente.


Quotidiano

Devo ter sido a única portuguesa a não ter visto o jogo da seleção. Tinha tempo, mas não tem piada ver um jogo cujo resultado se sabe à partida. Ou alguém achava que a Fifa ia deixar passar a Suécia? Portugal renderá mais €€€ no Mundial do que a Suécia.

Futebol à parte, hoje pus-me a pensar na formas tão diversas como nós habitamos este planeta. Isto porque ando a ler um livro que foi um sucesso de vendas e que por isso mesmo me custou mais a chegar às mãos. 
"Mil sóis resplandescentes" passa-se no Afeganistão, país sobre o qual eu sabia muito pouco, mas que Khaled Hosseini me tem ajudado a descobrir. Acabei de ler há na semana passada, do mesmo autor, "E as montanhas ecoaram", que comecei apenas por ter a palavra montanhas no título.
O que mais de fascinante têm estes livros é o retrato que fazem das relações entre homens e mulheres e das relações familiares daquela zona da Terra. Há muito mais do que pó e talibãs.
Este "Mil sóis resplandescentes" conta a história de uma rapariga de 15 anos que se casa com um homem na casa dos 40 e de como vai entranto no papel de esposa que se transforma numa mulher diligente, triste, submetida a uma servidão silenciosa e aterrorizada por mostrar, dizer ou fazer algo errado.
Longe de eu ser feminista, há algo de muito interessante em compreender como outras mulheres vivem a sua vida. Mulheres que em vez de irem ao pingo doce comprar pão, levam a massa pronta de casa, enrolada num pano, que cozem no tandoor comunitário. Isto tudo feito com uma visão rendilhada providenciada pela burca, que de resto não se vende na Zara.





ao contrário das folhas outonais

Depois de:
- três fins de semana sem descanso
- três semanas de "comunicação de surdos" (o mercúrio lá saiu da sua posição retrógada no domingo, thank god)
- três semanas down childhood's memory lane
- um funeral
- um erro profissional que nunca tinha cometido e que muito me envergonhou
- uma viagem pela autoestrada à chuva com a violência no banco do lado
- a minha mãe ter sido internada compulsivamente (graças a 5 pessoas a segurarem-lhe as pernas e braços na urgência psiquiátrica)
- ter apagado a minha conta do facebook (até se respira outro ar)
- ter arrumado mais uma vez - à força - a minha vida afetiva (she's not that into me...)
entre outras coisas, paz de espírito é o que se quer. Ou serenidade. Ou sossego. Uma das três serve.


 a Katy Perry a piscar o olho ao pessoal LGBT


música para dançar em casa ao fim do dia

Isto porque estou proibida de ouvir a Emeli Sande.