do alojamento mais concorrido

Navegando pelo facebook neste verão, vendo todas as "smiling faces" e perguntando se continuarão a sorrir depois do disparo da fotografia, lembro-me sempre desta citação:

"And if these pictures have anything important to say to future generations, it's this: I was here. I existed. I was young, I was happy, and someone cared enough about me in this world to take my picture." 
in One Hour Photo (2002), Mark Romanek

O que fazer quando tudo arde?

Descobri hoje um blogue muito curioso.
O conceito é engraçado; não traz assim nada de novo, mas no todo fica bem conseguido.
Eu já tinha pensado nas coisas em que pegava se a minha casa estivesse a arder, mas apetece-me meditar mais um pouco sobre o assunto. Adianto já que não chegariam a ser cinza:
- o meu vision board - porque representa o caminho já feito e a esperança do que está para acontecer;
- o computador - não porque tenha nada de importante nele, mas só porque é novo;
- os discos externos - onde estão todas as fotos que tenho e os meus textos de ficção;
- o caderno com poemas escritos na adolescência - não exatamente pela qualidade literária (eu deixei-me da poesia aos vinte anos), mas porque é uma espécie de gps existencial e porque tem anotações/críticas de um professor que muito estimo, poeta por sinal;
- o mp3 - porque é um dos objetos mais resistentes que já tive e depois da casa ardida iria querer ouvir "to build a home" dos Cinematic Orchestra;
- o tablet - porque já não sei ler em papel e eu preciso de leituras como de pão;
- o gorro castanho - porque é giro, fica-me bem e usei-o em viagens muito significativas;
- o meu casaco polar azul preferido - está velhote, sim senhores, mas quando o uso sinto-me muito eu, whatever that means;
- o meu lenço preferido - porque é fashion e uma mulher precisa de uma coisa fashion quando tudo arde. 




Mau...

Toda a gente a sair da net! É que não consigo pesquisar nada em condições. Tanta gente em casa durante o mês de agosto está a estreitar-me a banda.
Pronto... deixem-se estar. Eu gosto da vossa companhia. :)

Dhafer Youssef

No outro dia vi este senhor ao vivo. A forma como ele projeta a voz é absolutamente impressionante. Tem rodado no mp3 e é muito bom como banda sonora para a leitura de livros do Salman Rushdie e do Orham Pamuk.


Alanis

A Alanis Morissette não o sabe, mas eu e ela temos uma relação de quase 20 anos.


"Jagged Little Pill" marcou os meus tempos de ensino superior e uma das paixões mais palermas, mas mais marcantes que tive (por alguém que tinha uma relação à prova de bala, de tal forma que ainda hoje estão juntas. adoptaram uma menina e vivem no sítio onde eu viria a ouvir tantas vezes o próximo álbum). A paixão era um caso perdido e a adolescente que eu era gostou daquela angst toda contida nas diversas músicas.



É para mim o melhor álbum da Alanis. Sei (ainda) de cor todas as canções e todas elas despertaram em mim emoções e ideias que cheguei a pôr por escrito. É a tal peça de ficção com cinquenta páginas em que nunca mais peguei e que jaz algures num disco usb. Foi ao som desssas músicas que conheci alguns dos meus melhores amigos (que ainda hoje o são) e foi ao som delas que me senti completamente livre, despreocupada. The world was my oyster. 



Foi um unplugged muito bem conseguido e está mais ou menos no mesmo plano que o SPIJ. Só não o consegue porque lhe falta "The couch" (que é uma das músicas mais significativas para mim). Era um álbum que ouvia para acalmar a energia no tempo em que the world was my oyster. 


2002... Este álbum passou-me um bocadito ao lado, porque fiz a melhor viagem da minha vida (até agora...) e estava prestes a apaixonar-me por aquela que habitou o meu coração durante mais tempo. "21 Things I Want in a Lover" é a melhor faixa do álbum. Ainda hoje é uma espécie de leitmotiv meu.


Este passou-me completamente ao lado. 
Ela cortou o cabelo muito curto, namorou com o Ryan Reynolds (tenho a certeza que estava a viver coisas muito interessantes, mas o álbum é um bocadito insípido), eu apaixonei-me "head over feet" e quem quer saber de "So called chaos" quando o mundo é tão lindo e há borboletas em todo o lado? 
Salvou-se no entanto a faixa "everything" que é uma das minhas canções preferidas. Everything é das coisas mais bonitas que eu já ouvi e passa muitas vezes no meu pc e mp3. É a minha cara. 


Mas como na vida tudo é transitório, até a vida em si própria, a relação com o Reynolds acabou. A minha também, em 2008, e "not as we" mais "torch" ajudaram-me a pintar aquela figura de quem lambe vagarosamente as feridas de um coração partido. Porém, "incomplete" é a minha faixa preferida. É a última faixa do álbum e encerra muito bem aquilo que uma mulher sente no início dos trintas, consciente de um certo percurso espíritual.


Havoc and bright lights. Qualquer coisa como "devastação e barulho de luzes".
Fresquinho. Tão fresquinho que ainda nem saiu, mas eu já o ouvi. Abençoada seja a net. :)
Eu não tenho de falar sobre este, pois não? hehehehe Bom... a capa é lindíssima... não é?
A Alanis casou-se com um rapper, foi mãe e entre as fraldas e a amamentação escreveu três dezenas de canções, mas só doze constam no álbum. A mais orelhuda é "guardian" e é a minha preferida, embora haja mais duas que também ficam no ouvido.
Num ano em que muitas coisas vão acontecendo, ainda tenho quatro meses e duas semanas para colocar definitivamente 2012 como um pico genial na história na minha vida. :)


O que acontece no escuro

Quando comecei a ler o Auster, há uns anos, não o achei nada de extraordinário, mas entretanto descobri nele um dos escritores mais inspirados do nosso tempo. 

"Man in the dark" é a história de um homem que tem insónias e que, madrugada dentro, inventa mentalmente narrativas para se concentrar em alguma coisa que não sejam os destroços da sua vida e das vidas da filha e da neta que habitam a mesma casa, a qual acaba por ser uma certa ilha para três náufragos. Há quem conte carneiros, ele conta histórias. Pessoalmente, o livro prendeu-me logo aqui, porque às vezes eu faço o mesmo quando não consigo conciliar o sono.

A escrita de Auster é simples, clara e despretensiosa. Mas há sempre um parágrafo que nos surpreende quando menos esperamos. Uma ideia fora do vulgar que nos deixa a olhar para as páginas, a sorrir e a pensar "nunca me tinha ocorrido isto".

Uma das coisas mais tocantes da escrita dele são os acasos, aqueles pequenos pormenores que na escrita e no cinema nunca são acessórios. Acabam até por ser essenciais para uma certa redenção das personagens e dão-nos uma certa sensação que também na nossa vida nada é por acaso, que as coincidências não existem realmente e que a redenção é possível.

Não importa o livro que se leia dele, é certo que vamos encontrar referências a filmes (o homem é cinéfilo dos sete costados), a Nova Iorque e provavelmente ao baseball. As personagens dos livros são pessoas que poderíamos conhecer e nas suas existências podemos ver um pouco de nós próprios.
É no carácter plausível e quotidiano dos enredos de Auster que reside essencialmente o seu encanto.



Short story


There was once this man named Jack. He was married. His wife was Ruth. He was a very sweet man and he had no troubles in his sky.
One day his wife died, and then he became ruthless.

Na terra do meu pai

havia muitas coisas curiosas de que guardo lembrança. Nomeadamente uma senhora já velhota, mas cheia de porte e genica, que me fazia lembrar a Sibila da Agustina e que corria a propriedade toda. E se havia para correr, porque dali ao Poço Corga era sempre a subir. Por isso, eu entendia a Sibila, porque a Sra. Silvina era muito parecida com ela. Ainda estive para lhe perguntar se alguma vez uma senhora baixinha, de cabelos brancos apanhados num rolinho, se tinha cruzado com ela, mas não tive coragem, sobretudo porque era uma pergunta palerma. E para quê fazer perguntas palermas a alguém que tinha dois cães que ladravam furiosamente e um diospireiro carregadinho de fruta madura. Mas reparem: daqueles dióspiros a sério, com riscas castanhas; não daqueles luzidios que aparecem em caixas de plástico no supermercado. Os dióspiros foram uma das minhas primeiras aprendizagens do tempo. Sim senhora, todos coloridos, mas tão verdes que a certa altura parecia que tínhamos duas línguas em vez de uma só.
Havia também por lá uma mula velha. Muito pachorrenta. E é nela que me fixo hoje, porque a vida às vezes parece uma mula velha e teimosa. Nós para ela, cheios de meiguice, "anda lá...". E ela nem um centímetro.



E ainda a propósito do tempo

desde o início do ano que, quando olho para o relógio, são 11:11, ou 21:21, ou 16:16...
E eu nem ando com relógio e sou meio desligada das horas, mas nem imaginam as vezes que isto me acontece. E receber emails do mesmo género, 09:09... e por aí fora. Ouvi dizer uma vez que era sinal de sorte. Espero bem que sim, porque todos precisamos de uma dose generosa dela.

O tempo

sempre me ensinou a confiar nele. De tal maneira que, quando me cruzei com aquela frase, guardei-a como um tesouro. “O único motivo para o tempo é para que tudo não aconteça ao mesmo tempo”.
Nunca noite que é o calendário diz que é de verão, mas o tempo lá fora é capaz de contrariar a coisa, põe-se uma pessoa a pensar naquilo que deveria ter feito, mas não fez. Um convite que nunca se lançou. Uma pergunta que nunca se fez. Um caminho que não se iniciou.
A oportunidade perdida é das coisas que mais me intriga. A janela que se abriu não volta a abrir-se? Será que não a perdemos verdadeiramente o momento ou, força do destino ou algo que o valha, ele volta a surgir? 
É que às vezes o tempo vem mostrar-nos que a resposta esteve sempre à frente do nariz e que a contornámos sempre. Mais tarde, vemos os sinais todos alinhados nessa direção, em que não reparámos.  Quer dizer, até reparámos, mas havia outra coisa que parecia mais importante. E no entanto não era. Resta-me dobrar o continuum espacio-temporal.