Sobrevivi

ao 1.º período e ainda agora não sei bem como. Daqui a muitos e muitos anos hei de lembrar-me deste mistério existencial. Dois enigmas arrumados na mesma gaveta: como surgiu o Big Bang e como cheguei inteira ao final de 2014. Com uma grande diferença: é que no primeiro há muita gente a investigar e no segundo ninguém lhe pega. E não contem comigo para nenhum dos dois. Lá dizia o Fernando Pessoa que sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo.
Espétaculo... espetáculo... não foi, mas teve coisas das boas e das outras.

Por aqui, continua-se sem fumar. Já lá vão mais de três meses e completamente firme. No outro dia, durante uma resma de testes ainda me apeteceu acender um rolinho de tabaco, mas decisão é decisão e fui fazer um fondue de chocolate para acalmar as hostes.
Ah... então mas e a balança?!
A balança continua na mesma e as calças do ano passado continuam a servir-me igualmente.

As pessoas não perguntam porque deixei eu de fumar, porque a resposta é óbvia. Porém, havia uma coisa que me deixava a pensar.
Eu tenho à minha volta umas quantas mulheres que andam perto dos cinquentas e que fumam.
E não há como dar-lhe a volta. Se até aos quarentas, nem sempre se distingue uma fumadora de uma não fumadora, a partir da esquina dessa idade não há connfusão possível. Basta olhar para uma mulher durante uns segundos e percebe-se logo se fuma e quanto fuma por dia. É o aspeto geral. É a pele, são os olhos, são os dentes... Começou a fazer-me confusão. Então, agora que ando a investir milhares de euros nos dentinhos e com resultados excelentes (vamos ver sem em 2015 me livro dos ferrinhos), ia eu conspurcar o esmalte?
Uma mulher que fuma envelhece muito mais.
E assim se deixa de fumar também por vaidade.
Há uma pessoa que gosta muito de mim que me dizia sempre "Ó Laranja, fumar é uma coisa que não combina nada contigo."
Assim, fica a fazer "pendant", que coisas a condizer é algo me me fascina e entusiasma.
Na verdade sinto como se fosse um "eu" completamente diferente.

E que mais de 2014?

O saturno lá se foi embora do céu astrológico. Já me andava a roer as bainhas das calças há quase 3 anos. Foi um longo remoinho que desarrumou tudo, mas lá deixou algumas coisas arrumadas. E já se sabe, quando se arruma fica sempre um espaço vazio. 
É definitivamente vazio. Daquele tipo de vazio de fazer eco.
E é para esse espaço vazio que tenho olhado. Há dias em que parece espaçoso no bom sentido, mas em essência é claustrofobicamente amplo. 

Por isso é que viajo, às vezes mesmo sem sair do lugar.
A minha geografia onírica é mais ou menos diversificada, mas vou muito a Paris.
Assim assim mais a Londres. 
Sempre Londres. 
Vou a Londres várias vezes por dia. Entro nos museus, ando por Westminster, apanho sol nas cadeiras de Hyde Park, vejo os esquilos a saltar, faço o Strand a pé, subo até à Soho Square e aí descanso num dos bancos. 
 Existe um tempo para uma pessoa se fazer ao caminho, mas esse tempo ainda não chegou.

De resto, não vale a pena fazer muitos balanços por causa do ouvido interno. Enredarmo-nos em balanços é como aquela atividade palerma que fazíamos enquanto miúdos, o de andar à roda sobre nós próprios para experimentarmos as tonturas consequentes.
Confere. Dá tonturas, sim senhora.
Eu prefiro vertigens.
E se for para andar à roda que seja para dançar.


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