moderate expectations

Calhou esta semana estar à conversa sobre as expectativas que devemos ou não ter dos outros e alguém me dizia que temos de viver sem esperar nada dos outros. Como ainda me falta muito para ser uma criatura iluminada, um buda, por exemplo, e não atingi um certo grau de cinicismo existencial, eu espero sempre algo dos outros. Não demasiado, claro, mas todos esperamos algo dos outros. As relações não são um contrato comercial. Aliás, as relações que funcionam bem são aquelas em que ninguém está a fazer a contabilidade, mas uma relação é sempre um acordo tácito de espectativas e de gestão das mesmas. 
Desliguei o telefone a pensar que uma das piores coisas que se pode dizer a alguém que gosta de nós é: "eu não espero nada de ti". Seja lá com que tom for, a coisa não vai correr bem.
A verdade é que gostamos que os outros tenham expectativas (moderadas) sobre nós e saber que podemos contar com eles é algo que nos faz felizes. 

Uma arte


A arte de perder não é difícil de dominar;
há tantas coisas que parecem conter em si a intenção
de serem perdidas que a sua perda não é desastre algum.

Perde qualquer coisa todos os dias. Aceita o nervosismo
pelas chaves perdidas, pelas horas mal gastas.
A arte de perder não é difícil de dominar.

Depois experimenta perder mais longe, perder mais depressa:
lugares e nomes e o destino para onde tencionavas 
viajar. Nada disso provocará desastre algum.

Eu perdi o relógio da minha mãe. E, vê bem, foram-se-me as últimas 
ou as penúltimas casas que mais amei.
A arte perder não é difícil de dominar.

Perdi duas cidades, ambas adoráveis. E alguns reinos
mais vastos que foram meus, dois rios, um continente.
Tenho saudades deles, mas perdê-los não foi um desastre.

Mesmo perder-te (o tom de voz irónico, um gesto que
amo) é algo que não devo omitir. É evidente
que a arte de perder não é difícil de dominar
embora possa parecer (Escreve-o!) um desastre.


One art

 Elizabeth Bishop, 1911-1979