Uma dose tremenda de energia

é algo extremamente necessário para recomeçar a trabalhar depois de umas semanas entre árvores e esquecimentos. E pedras e fontes de água fresca. Prevejo que daqui a duas semanas isto já tenha atingido a velocidade cruzeiro.
Pontos positivos:
- Não me lembro de estar tão concentrada e ao mesmo tempo descontraída no mês de setembro. Passei o ano anterior a testar os meus limites profissionais, verificando que não eram assim tão definitivos e amovíveis como isso. 
- Esta semana recomeça a meditação budista em conjunto e já vou sentindo falta disso.
- Afeiçoei-me a outro passatempo de que hei-de falar.
- Sinto-me mais próxima que nunca dos meus amigos.

E ainda assim, algo que vou ter de driblar no dia-a-dia:
- a A. é casada e tem duas filhas adolescentes. Casou nova com um gnr, cujo estilo de vestuário ela partilha, e gaba-se que em casa dela fala-se muito pouco, pois ela e o marido não precisam de palavras para se entenderem. Ela confidenciou-me que toma uma dose jeitosa de Effexor, um antidepressivo potente cujo desmame é bastante complicado, e que está a contar tomá-lo para o resto da vida. O marido está na mesma senda. 
Para além dos turnos que desencontram rotinas familiares, ele anda sempre absorvido com pequenos projetos que o põem fora de casa e ela faz noitadas de trabalho. As filhas vão-se safando como podem. Uma é meio introvertida e pouco social (o patinho feio da família, de acordo com a pequena) e a outra desatou a fazer birras de manhã para não ir à escola. 
A A. tem uma grande paixoneta por mim e não sei se ela já se apercebeu disso. Não perde uma oportunidade para trabalhar comigo, almoçar comigo, olhar-me durante um período de tempo socialmente desconfortável para duas colegas de trabalho e sobretudo tocar-me. Quer dizer... eu sou uma fã dos meus fãs. Tenho isso por princípio e gosto de quem gosta de mim. Porém, é certo e sabido que ao almoço ela é a única a falar (vá... é mais a gritar...), seja para explicar o lado mais divertido de ter uma família, seja para desabafar com um tom irritado sobre as mais variadas coisas. Ela irrita-se facilmente. Até é uma pessoa de bom coração e interessante. Partilhamos a paixão pelos livros e leituras. E é nítido que ela tem uma dose de adrenalina quando estou ao pé dela.
Mas há uma parte de mim que não tem paciência absolutamente nenhuma para pessoas que escolheram o lado mais conveniente da vida, que decidiram pintar o quadro familiar e socialmente perfeito, quando o seu desejo as empurra para outro lado. 
É verdade que regresso todos os dias para uma casa vazia, onde não habita nenhuma relação, nem sequer uma vagamente confortável. Não tenho a alegria de ver a minha prole a crescer. Ambas por decisão e fruto dos acasos da vida. Tenho outras alegrias, é certo. Tiro prazer da vida de outras formas. Mas em todo o caso dentro do meu coração sinto-me perfeitamente livre para amar quem eu entender. E isso é completamente impagável.


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