Algumas notas para o futuro:
(se a bola de cristal não funcionar, devolvo-a)
- Depois de terminar o mandato, Cavaco vai recolher-se e raramente vamos ouvir notícias dele. Sobretudo, porque está doente e a Maria está cansada de o ver a disfarçar (mal) a doença na tv.
- Portas quer muito, muito, mas nunca será presidente na república, primeiro porque, por apesar das feiras, o povo não se revê nele. E sim... infelizmente há uma pitada de homofobia nisso.
- Duvido que o Marcelo seja PR, porque dorme pouco. Quem pouco dorme, muito aprende e o povo não gosta de ser comandado por pessoas que leem muito. Espertos são bem-vindos, mas letrados... era o que faltava.
- O Santana quer muito (mas quer menos que o Portas). Ainda assim, a malta do aparelho do psd não o vai deixar ser PR, porque toda a gente já o viu fechar pistas de dança da Linha. O PR não precisa de ser um homem sério, mas tem de parecê-lo.
- O Passos vai perder em setembro e o psd vai apressar-se a colocar outro messias. Ainda vamos levar excessivamente com o Marco António Costa...
- O outro António Costa, sem marco, não vai conseguir governar com trinta e tal por cento de votos. Vai ter de dançar muito com o Jerónimo e o Portas e ainda vamos vê-lo a transpirar copiosamente.
- A Catarina Martins não vai dançar, não porque não saiba, mas porque não quer.
chove como se escorressem palavras nos vidros
escuto e olho,
com a certeza redonda de um milagre por baixo da pele áspera dos dias
que há sangue a fluir
e que prevalece um coração com uma cadência certa e tranquila,
onde se aninha uma voz doce,
sábia também de silêncio,
e que se aconchega no colo dos dias,
como se não houvesse mais nada
senão manhãs limpas
em todos os instantes
com a certeza redonda de um milagre por baixo da pele áspera dos dias
que há sangue a fluir
e que prevalece um coração com uma cadência certa e tranquila,
onde se aninha uma voz doce,
sábia também de silêncio,
e que se aconchega no colo dos dias,
como se não houvesse mais nada
senão manhãs limpas
em todos os instantes
moderate expectations
Calhou esta semana estar à conversa sobre as expectativas que devemos ou não ter dos outros e alguém me dizia que temos de viver sem esperar nada dos outros. Como ainda me falta muito para ser uma criatura iluminada, um buda, por exemplo, e não atingi um certo grau de cinicismo existencial, eu espero sempre algo dos outros. Não demasiado, claro, mas todos esperamos algo dos outros. As relações não são um contrato comercial. Aliás, as relações que funcionam bem são aquelas em que ninguém está a fazer a contabilidade, mas uma relação é sempre um acordo tácito de espectativas e de gestão das mesmas.
Desliguei o telefone a pensar que uma das piores coisas que se pode dizer a alguém que gosta de nós é: "eu não espero nada de ti". Seja lá com que tom for, a coisa não vai correr bem.
A verdade é que gostamos que os outros tenham expectativas (moderadas) sobre nós e saber que podemos contar com eles é algo que nos faz felizes.
Uma arte
A arte de perder não é difícil de dominar;
há tantas coisas que parecem conter em si a intenção
de serem perdidas que a sua perda não é desastre algum.
há tantas coisas que parecem conter em si a intenção
de serem perdidas que a sua perda não é desastre algum.
Perde qualquer coisa todos os dias. Aceita o nervosismo
pelas chaves perdidas, pelas horas mal gastas.
A arte de perder não é difícil de dominar.
pelas chaves perdidas, pelas horas mal gastas.
A arte de perder não é difícil de dominar.
Depois experimenta perder mais longe, perder mais depressa:
lugares e nomes e o destino para onde tencionavas
viajar. Nada disso provocará desastre algum.
lugares e nomes e o destino para onde tencionavas
viajar. Nada disso provocará desastre algum.
Eu perdi o relógio da minha mãe. E, vê bem, foram-se-me as últimas
ou as penúltimas casas que mais amei.
A arte perder não é difícil de dominar.
ou as penúltimas casas que mais amei.
A arte perder não é difícil de dominar.
Perdi duas cidades, ambas adoráveis. E alguns reinos
mais vastos que foram meus, dois rios, um continente.
Tenho saudades deles, mas perdê-los não foi um desastre.
mais vastos que foram meus, dois rios, um continente.
Tenho saudades deles, mas perdê-los não foi um desastre.
Mesmo perder-te (o tom de voz irónico, um gesto que
amo) é algo que não devo omitir. É evidente
que a arte de perder não é difícil de dominar
embora possa parecer (Escreve-o!) um desastre.
amo) é algo que não devo omitir. É evidente
que a arte de perder não é difícil de dominar
embora possa parecer (Escreve-o!) um desastre.
Apoio emocional
a lésbicas mal resolvidas, anémicas e recém abandonadas pela namorada... parte II ???
e ao domingo. Outra vez?!
A meio da leitura de um clássico da literatura inglesa de categoria.
Tenham paciência.
Muito obrigada, mas vou passar. À primeira caem todos, à segunda caem os tolos.
Se Deus existir, tem um sentido de humor engraçado.
Pelo menos, deu-me livros. E sentido de humor.
e ao domingo. Outra vez?!
A meio da leitura de um clássico da literatura inglesa de categoria.
Tenham paciência.
Muito obrigada, mas vou passar. À primeira caem todos, à segunda caem os tolos.
Se Deus existir, tem um sentido de humor engraçado.
Pelo menos, deu-me livros. E sentido de humor.
Preguiça linguística para designar datas relevantes
Julgo que deveria haver um acordo ortográfico para resolver a questão dos brasileiros designarem por "niver" a data em que uma pessoa celebra o seu nascimento.
Sumo pontífice
Depois de dizer que dava um murro a um amigo que ofendesse a sua mãe, Sua Santidade usou a expressão "procriar como coelhos" e "cristãos" na mesma frase.
Vá lá... os coelhos não podem ser chamados assim em vão. São criaturas muito fofinhas.
espírito científico
no capítulo das paixões?
Sou como a outra... Não nego à partida uma ciência que não conheço...
Sim... não é capaz de ser má ideia de começar a andar com a lista na carteira. :D
Sou como a outra... Não nego à partida uma ciência que não conheço...
Sim... não é capaz de ser má ideia de começar a andar com a lista na carteira. :D
Eis as 36 perguntas:
1. Se pudesse escolher qualquer pessoa no mundo, quem convidaria para jantar?
2. Gostava de ser famoso? Como?
3. Antes de fazer um telefonema, ensaia o que vai dizer? Porquê?
4. O que seria um dia perfeito para si?
5. Quando foi a última vez que cantou para si? E para outra pessoa?
6. Se pudesse viver até os 90 anos com ou a mente ou o corpo de alguém de 30 anos, qual das duas opções escolheria?
7. Tem uma intuição secreta sobre como morrerá?
8. Indique três coisas que você e o seu parceiro têm em comum.
9. Pelo que na sua vida você sente mais gratidão?
10. Se pudesse mudar alguma coisa no modo como foi criado, o que seria?
11. Use quatro minutos para contar ao seu parceiro a história da sua vida com o máximo de detalhes possíveis.
12. Se pudesse acordar amanhã e ganhar qualquer qualidade ou habilidade, qual seria?
13. Se uma bola de cristal pudesse contar a verdade sobre a sua vida, sobre o futuro ou sobre qualquer outra coisa, o que é que gostaria de saber?
14. Há algo que sonha fazer há muito tempo? Porque é que ainda não o fez?
15. Qual é a maior realização da sua vida?
16. O que mais valoriza numa amizade?
17. Qual é a sua memória mais querida?
18. Qual é a sua memória mais terrível?
19. Se você soubesse que vai morrer de repente, num ano, mudaria algo no modo como vive hoje? Porquê?
20. O que a amizade significa para si?
21. Qual o papel que o amor e o afeto têm na sua vida?
22. Em capítulos, divida algo que você considere uma característica positiva do seu parceiro. Compartilhem um total de cinco itens.
23. O quão próxima e carinhosa é a sua família? Sente que a sua infância foi mais feliz que a de outras pessoas?
24. Como se sente relativamente à relação com sua mãe?
25. Diga três frases verdadeiras sobre "nós". Por exemplo: "Nós dois estamos nessa sala e sentimos..."
26. Complete a frase: "Eu desejava ter alguém com quem eu pudesse dividir..."
27. Se você se tornasse num amigo próximo do seu parceiro, diga o que seria importante que ele ou ela saiba.
28. Diga ao seu parceiro o que gosta nele; seja honesto e diga coisas que você não diria a alguém que acabou de conhecer.
29. Partilhe com o seu parceiro um momento embaraçoso da sua vida.
30. Quando foi a última vez que chorou à frente de alguém? E sozinho?
31. Diga ao seu parceiro algo que você já goste nele.
32. O que, de todas as opções possíveis, é um assunto muito sério para que se faça piada sobre ele?
33. Se você morresse esta noite, sem ter a oportunidade de se comunicar, o que do que mais se arrependeria de não ter dito a alguém? Porque é que ainda não lhe disse?
34. A sua casa, onde está tudo o que você tem, é alvo de um incêndio. Depois de salvar quem as pessoas que ama e os seus animais de estimação, pode salvar mais uma coisa. O que seria? Porquê?
35. De todas as pessoas da sua família, qual a morte que você considera mais perturbadora? Porquê?
36. Partilhe um problema pessoal e peça ao seu parceiro um conselho de como deve agir. Peça também ao seu parceiro que ele lhe diga como é que você parece estar a sentir-se sobre o problema que com ele partilhou.
aquele momento
em que terminamos um ecocardiograma e o médico nos diz que temos um coração muito bom, muito saudável (para viver até aos 100 anos) e muito bonito.
A sério. Um coração muito bonito. :)
A sério. Um coração muito bonito. :)
a primeira semana de vinte quinze
foi de top, não só mas também porque dei a melhor semana de aulas de que me lembro. Estou inspirada. :)
E inspiro e expiro muito melhor porque já lá vão 5 meses sem fumar.
Coisas boas... mesmo boas. A série The Fosters é a melhor coisa que vi nos últimos tempos.
E a Sherri Saum (a morena) é a criatura mais doce e meiga daquela série. Quando for grande, hei de casar-me com uma mulher assim. Valha-me Santo António.
the gift of goodbye
"When people can walk away from you, let them walk
because your destiny is not tied to the person who left."
Isto porque hoje é dia do Senhor... Não me perguntem de que Senhor se trata...
Vinte quinze! :)
Espero que o vosso ano novo seja cheio de coisas boas! Que 2015 seja muito meiguinho e generoso convosco.
Diz a Cristina Candeias que este ano vai ser para lá de bom para os escorpiões.
Eu não levo estas coisas dos signos muito a sério, mas gosto de ouvir.
E certo é que desde 2012 que os escorpiões têm sido muito apertados, no meu caso, que sou laranja, passei pelos mais diversos espremedores, umas vezes com algum sumo resultante, outras nem por isso.
De há uns anos para cá que tenho um hábito no início do ano. Compro um frasco de vidro e, ao longo dos meses, vou registando em papelinhos coisas boas que aconteceram, que me fizeram sorrir e pelas quais estou grata. Por isso sei, porque tenho ali a prova, que sou capaz de fazer balanços positivos de muitos dias e até de meses, mas o chamado "ano bom", daqueles que terminam e uma pessoa diz "sim, senhores, este foi de categoria" já não tenho desde a década passada. E no capítulo das bênçãos, tenho recebido mais aquilo que em inglês se diz "blessings in disguise", daqueles momentos em que uma pessoa se senta e pensa "vamos lá ver o lado positivo disto".
Mas adiante, que eu não sou pessoa de ver o copo meio vazio. Enquanto tiver líquido, está bom. E quando seca, não sou de ficar à espera que chova. Há certamente pessoas que podem achar que eu não luto o suficiente, mas os que me conhecem bem sabem que nos últimos anos têm sido com unhas e dentes. De resto, faço o mesmo que todos os seres humanos fazem: o melhor que podem, com o que têm e o que sabem. E isto sei de certeza absoluta: quando alguém não faz melhor é porque não pode, não consegue ou não sabe.
Esta é a altura em que estamos todos cheios de ideias e resoluções, a assumir compromissos com o Tempo. Eu também as tenho, mas sou muito pelo improviso. Gosto de inventar à medida que vou andando. Apesar disso tenho alguns objetivos.
O primeiro tem a ver com a continuidade nas minhas lides de ex-fumadora. Está a correr melhor do que eu pensava. Desde há quinze dias que andava a sonhar com cigarros e ontem dei duas passas, mas, antes das terceira, apaguei o cigarro e fui a correr lavar os dentes e bochechar com elixir. Soube-me muito mal e achei repugnante. Blhec...
O outro objetivo tem a ver com uma coisa muito simples. Serviu este final de ano para eu pensar naquela coisa que me faz mesmo feliz e que só depende de mim. É algo óbvio mas a que eu não tinha ligado o suficiente. Hei de voltar a falar sobre o assunto, mas por agora basta dizer "I'm on it".
De resto, em 2015 não quero ler mais, nem ver mais cinema, nem viajar mais. Quero amar mais e melhor. Quero ser a pessoa mais meiga e gentil para comigo deste mundo e que essa energia contagie os outros. Sim, sem dúvida, um certo reboliço bom de energia.
Que daqui a um ano, eu possa dizer de mim e dos que me rodeiam "sim, senhores, 2015 foi de categoria!"
E saudinha da boa porque, sem ela, nada feito. :)
1.ª resolução de ano novo
Mudar de casa e de cidade. Algo que eu já deveria ter feito há 6 anos. Mas ainda vou a tempo. :)
Protagonista de 2014
Houve vários, mas dos que me lambem as orelhas só há um.
Por isso, completo destaque para o felino, que já tem vários nomes.
Não vou dizer que só lhe falta falar... O T-Bone não fala e ainda bem. Mas faz outras coisas giras.
- Segue-me para todo o lado, durante o dia inteiro. É um stalker, mas meiguinho.
- Mesmo até para a casa de banho. Dou-lhe sempre dez segundos para ele chegar. Olha para mim, senta-se e fica ali a fazer companhia.
- Fica o tempo todo do outro lado da cortina, sentado, à espera que eu saia do duche. A seguir, cheira-me um pé, depois o outro, pula para a base e lambe a água.
- Salta para cima da bancada e põe a cauda dentro do lavatório. Sim, já apanhou com pasta de dentes...
- Pula para cima da secretária do computador e senta-se a abanar ligeiramente, com os olhos semicerrados, com aquele ar "estou cheio de sono, mas se tu aguentas, eu também."
- De manhã, sento-me na cama e ele ali ao meu lado, com ar de inspetor de obras. "Este papel de parede foi muito bem escolhido."
- Quando chego a casa, vem logo a correr e instala-se no meu colo. Deito-lhe comida, trinca uns pedacitos e vem outra vez ter comigo para me lamber a testa ou as mãos.
- Gosta de beber chá de tília, de cheirar iogurtes e lambe sempre o meu prato da sopa. Não é apreciador de peixe cozinhado, mas não se faz rogado uma bela posta de bacalhau a demolhar em cima da bancada. Never again...
- Gosta de perseguir bolas de alumínio amassado e depois devolve-mas.
- Basta dizer "isso é meu" para ele parar com as asneiras. Aliás, não faz grandes asneiras. Só afia as garras nos sítios predefinidos.
- À noite, depois de eu desligar a luz,
dá-me dez minutos para eu encontrar posição para dormir e depois
instala-se invariavelmente em cima das minhas pernas. E suspira.
Foi uma das criaturas que mais me fez sorrir e rir em 2014. Isto sem ele já não era a mesma coisa.
2014...
O primeiro semestre foi jeitoso, mas o segundo... foi "agarra-te que agora é sempre a descer".
Alguns momentos estranhos:
- "Hum... Este chocolate não tem passas... É pá, estou a comer a cera ortodôntica!"
- "Como é que eu vou a Sintra com uma pessoa que sofre de agorafobia?"
- "O homem é mais simpático do que eu pensava... Ele vai justificar-me a falta!"
- "Tenho a sensação que estou a ser observada... Ah é o gato."
- "São quase três da manhã. É melhor eu dar com o sítio onde vou dormir antes que alguém surja do nada numa destas ruas desertas."
- "Estou a três mil quilómetros de casa e daqui a doze horas tenho de dar aulas ao 6.º C. Isto tem de correr bem."
- "É a pessoa mais fascinante que conheço neste momento, but she not into me..."
Edit:
- "Se todos os blind dates com homens fossem sempre assim um sucesso, era mulher para apostar mais nisso." :)
- "O protetor solar não é nenhum mito. Na próxima semana, depois do escaldão passar, tenho de espalhar melhor o creme."
- "Uau! Bela fotografia! Não tinha um único dente no lugar."
- "Bolas... Esta senhora quer mesmo dar-me porrada. Deus queira que o Joaquim entre agora na sala."
- "Hein... O diretor da escola adicionou-me? Logo agora que eu estava a pensar mudar de escola..."
- "Este pão caseiro é mesmo bom. Ó não... mais um bracket descolado..."
- "Mas que cheiro pestilento é este...? Quem é que está a fumar?"
- "Um rádio despertador... A sério?"
Entre outros.
Entra outro. :)
Alguns momentos estranhos:
- "Hum... Este chocolate não tem passas... É pá, estou a comer a cera ortodôntica!"
- "Como é que eu vou a Sintra com uma pessoa que sofre de agorafobia?"
- "O homem é mais simpático do que eu pensava... Ele vai justificar-me a falta!"
- "Tenho a sensação que estou a ser observada... Ah é o gato."
- "São quase três da manhã. É melhor eu dar com o sítio onde vou dormir antes que alguém surja do nada numa destas ruas desertas."
- "Estou a três mil quilómetros de casa e daqui a doze horas tenho de dar aulas ao 6.º C. Isto tem de correr bem."
- "É a pessoa mais fascinante que conheço neste momento, but she not into me..."
Edit:
- "Se todos os blind dates com homens fossem sempre assim um sucesso, era mulher para apostar mais nisso." :)
- "O protetor solar não é nenhum mito. Na próxima semana, depois do escaldão passar, tenho de espalhar melhor o creme."
- "Uau! Bela fotografia! Não tinha um único dente no lugar."
- "Bolas... Esta senhora quer mesmo dar-me porrada. Deus queira que o Joaquim entre agora na sala."
- "Hein... O diretor da escola adicionou-me? Logo agora que eu estava a pensar mudar de escola..."
- "Este pão caseiro é mesmo bom. Ó não... mais um bracket descolado..."
- "Mas que cheiro pestilento é este...? Quem é que está a fumar?"
- "Um rádio despertador... A sério?"
Entre outros.
Entra outro. :)
Grandes esperanças
Caaalma! Ainda não é agora que vou falar do ano novo.
Mas sim do livro by Sir Charles Dickens.
Os eruditos... e agora aqui paro para passar mentalmente as imagens dos ditos senhores em questão. Não tem nada que enganar. Os eruditos são geralmente homens que nasceram na altura da 2.ª guerra mundial ou quando a memória dela ainda era fresca. Tiveram tempo para ler tudo porque, por um lado, na juventude deles não havia internet nem facebook e, por outro, havia menos livros para ler. Reconhecem-se igualmente pelas barbas e pelo perímetro abdominal.
Mas dizia eu que os eruditos andam sempre com esta questão em mãos "... leiam só os clássicos" ou então não... "afinal há autores recentes incontornáveis".
Quando o Harold Bloom editou o "Cânone Ocidental", um cartapácio bem jeitoso, a minha professora de Teoria da Literatura comoveu-se e esteve ali durante um bom bocado a dissertar sobre a coisa.
Ler os clássicos é como comer Nutella. Uma pessoa raramente vai ao engano. Pode acontecer é termo-nos esquecido do frasco no fundo do frigorífico e depois... depois microondas com ele. Está resolvido.
Mas não será arriscado e excessivo comparar a Nutella ao Charles Dickens? Not at all. Porque eu bem me lambuzei na escrita sublime daquelas páginas em que ele conta a saga de um rapaz órfão adotado a contragosto pela irmã, "brought up by hand" como os súbditos de sua majestade diziam, e que acaba por ser um cavalheiro, um "gentleman" portanto, daqueles que se juntavam em clubes e faziam coisas que só a abundância de dinheiro e o tédio propiciam.
E mais: durante o tempo de leitura uma pessoa entretém-se na convivência de personagens como Miss Havisham (a eterna solteira entradota que vivia com os relógios da casa todos parados nas 8:40, hora a que soube que o seu muito amado noivo tinha dado o golpe do baú no dia do casamento - there's no nice way to put it), ou a Estella (a menina com gelo no coração) ou o meu preferido, o ferreiro Joe Gargery ("Pip, old chap, ever the best of friends, ain't us?").
Hoje calhou ver a adaptação cinematografica mais recente.
E lembrei-me do Van Gogh, daquele impacto profundo que a luz, as cores vivas e as texturas que um Van Gogh provocam, que nos fazem voltar àquela salinha da National Gallery vezes sem conta.
Ver um filme, por muito bom que seja, como foi o caso, baseado num livro sublime, será talvez como ver um Van Gogh à luz de vela. Conseguem-se ver os ciprestes, sim senhores, e os girassóis também, mas não é a mesma coisa.
É uma experiência mais profunda, tal como aquela que Mr Pip Pirrip, Pip para os amigos, foi granjeando, num livro excelente sobre a amizade, a lealdade, a gratidão e o perdão.
não me perguntem
se é do Natal, porque o ano tem mais trezentas e sessenta e tal noites. E como eu sou uma pessoa moderada e equânime, gosto de ver as alegrias e as dores bem distribuídas pelo ano todo.
Ligar o turbo das expectativas e nostalgias na noite de Natal é uma coisa para a qual não tenho qualquer tipo de motivação.
Eu até sou budista.. por amor dos bodhisattvas.
Va lá... É só o aniversário do messias. E um pretexto para comer fritos ad nauseam daqui até aos reis.
(No do Sócrates ninguém se pôs a enfeitar árvores e embrulhar chocolates como se não houvesse amanhã. Por isso é que já lhe subiu a tensão...)
the big D
A primeira vez que me apercebi que algo não estava bem com o meu cérebro foi em 2003, depois de ver o filme As Horas, com aquele célebre diálogo entre a Virginia e o marido na estação de comboios.
Virginia Woolf suicidou-se, entrando num rio com os bolsos cheios de pedras. Não era maluca, não tinha um pirolito a menos, nem um parafuso a mais, não padeceu de falta de bater punho, de fazer pela vida, e aquilo de que ela tinha não cabe na linguagem quotidiana. Virginia Woolf sofria de transtorno bipolar. Não tem a visibilidade de uma espondilite anquilosante, mas também aleija.
Um dos problemas da depressão e das doenças mentais começa logo na linguagem. Usamos a mesma palavra para identificar a tristeza de ter arranhado o carro no estacionamento e para identificar a tristeza dos cinco segundos antes do suicídio.
A semântica da depressão que uma semana inteira de chuva provoca não é a mesma da depressão em que o nosso cérebro não consegue funcionar bem.
Todos temos, uns mais que outros, uma dificuldade em lidar com o que não é visível, com o imaterial. Este é o primeiro ponto. E o segundo tem a ver com a ignorância na área da neurociência. Ou seja, se por si só, é uma ciência em que os especialistas têm muitos pontos de interrogação, é natural que os não especialistas sintam uma perplexidade ainda maior. E depois há pessoas que não lidam bem com as perplexidades e arrumam a coisa com a linguagem quotidiana (que hoje em dia deixou de ser popular e passou a ser de um positivismo filosófico bacoco pró-empreendedorista). Assim se conclui que quem está deprimido é porque quer, é porque não sabe fazer pela vida.
Temos um amigo que está deprimido e convidamo-lo para jantar e, no fim, queremos ver resultados, ou seja, esperamos que o nosso amigo esteja menos triste. Só que o volume da situação nada tem a ver com a pinturas automóveis arranhadas e "por acaso eu até conheço um bate-chapas que te faz um jeitinho por isso".
É química, senhores. É uma questão de química.
Se os meus amigos e familiares ficam exasperados e frustrados por me verem deprimida há quase uma década? Ficam. Mas o que não passa pela cabeça de quase todos é que a minha frustração é multiplicada por mil, porque, como dizia a Virginia Woolf no filme, se as pessoas vivem com a minha nuvem escura e o medo da minha extinção, também eu, sobretudo eu, vivo com ela e que eu, e só eu, me debato sozinha no escuro, no escuro cerrado, ao fim do dia, a ponderar subir as escadas para ir dar comida ao gato ou descê-las e ligar o carro na garagem com o portão fechado. Mas desta parte ninguém sabe, porque não vale a pena acrescentar preocupações. Além disso far-me-ia parecer estúpida, no sentido em que sou tão desprovida de inteligência que nem sequer consigo ver que mais vale ir dar comida ao gato. Porque só alguém profundamente atrasado é que põe uma questão dessas em cima da mesa. Como se eu tivesse um QI de 60 e, tendo eu mais do dobro, não me apetece passar por néscia.
E então como é que se vive assim?
Aprende-se devagarinho. Vai-se conhecendo as pastilhas, os seus efeitos positivos e os adversos. Tenho momentos bons em que a química casa bem com o meu corpo durante uns tempos. Vai-se acertando a dose aqui e ali. O médico ajusta quando me vê melhor, depois o meu cérebro relapsa.
Não é fácil aceitar que se tem uma condição médica mais ou menos crónica.
Também tenho uma hérnia discal lombar. Não posso, por exemplo, fazer zumba, jogging e outros desportos de impacto, porque isso são coisas para me porem a analgésicos e fisioterapia durante uns tempos. Mas isso não causa estranheza (e não é por conseguir subir ligeirinha uma serra, por caminhos bravios).
Aquilo que custa é que a medicação que a P. terá de fazer para o resto da vida por causa da tiróide é normal, mas que os antidepressivos são "essa merda de que não te consegues livrar". Que marcar uma consulta com a endocrinologista é uma coisa e marcar uma com o psiquiatra é outra, porque "se tu fizesses isto, e assim e assado, e aquilo, e mais outro tanto, livravas-te dessas merdas que só enriquecem os laboratórios".
E já experimentaste acupuntura? E Reiki? E a meditação...?
Isso e um chazinho que se vende na zona saúde do continente e punhas-te fina.
E apanhar sol, rapariga, precisas é de apanhar sol. E de sair, beber uns copos e comer uns petiscos com os amigos que isso é a melhor cura.
Claro que sim! Umas moelas e um tinto alentejano em boa companhia são a cura para a depressão, o alzheimer, o parkinson e a esclerose múltipla.
Ah... a depressão é coisa de gente que não sabe apreciar a vida. Sim, sim... E a esclerose múltipla é uma coisa para preguiçosos que querem deslocar-se de cadeira de rodas e ter quem lhes dê banhinho.
Portanto, quando quando vejo que o gato corre o risco de ficar sem comida, uso um dos números mais importantes da minha lista e faço a medicação.
Fiz um voto de nunca mais contar aos amigos o que tomo ou deixo de tomar, se fui ou não fui ao psi.
Vou muitas mais vezes do que eles pensam e não vou tantas como precisava porque a saúde mental é dispendiosa. Por exemplo, na penúltima vez, gastei 130 euros e o medimento não resultou.
Quando estou bem, pressentem logo, puxam-me e eu vou sem dificuldade, porque o mundo parece fazer algum sentido e eu não guardo rancores (prefiro guardar dinheiro para viajar). É uma animação pegada, porque sou boa moça, de trato fácil, com sentido de humor, sempre pronta a dizer as coisas mais inteligentes e significativas para aumentar as alegrias ou para sossegar as dores dos outros porque conheço bem o sofrimento humano, do direito e do avesso.
Quando não estou bem, volto a surgir aos seus olhos como uma atrasada (mental?) que não sabe orientar a sua vida. E fico longe deles, porque estou doente e porque não me apetece explicar-me. Quem precisa de explicações não as vai entender e quem as compreende não sente falta delas.
Ainda assim, apesar do cérebro ser o órgão com mais descobertas a serem
feitas pelos cientistas, sinto-me grata por não ter vivido no tempo na
Virginia Woolf. E o meu gato também agradece. :)
Sobrevivi
ao 1.º período e ainda agora não sei bem como. Daqui a muitos e muitos anos hei de lembrar-me deste mistério existencial. Dois enigmas arrumados na mesma gaveta: como surgiu o Big Bang e como cheguei inteira ao final de 2014. Com uma grande diferença: é que no primeiro há muita gente a investigar e no segundo ninguém lhe pega. E não contem comigo para nenhum dos dois. Lá dizia o Fernando Pessoa que sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo.
Espétaculo... espetáculo... não foi, mas teve coisas das boas e das outras.
Por aqui, continua-se sem fumar. Já lá vão mais de três meses e completamente firme. No outro dia, durante uma resma de testes ainda me apeteceu acender um rolinho de tabaco, mas decisão é decisão e fui fazer um fondue de chocolate para acalmar as hostes.
Ah... então mas e a balança?!
A balança continua na mesma e as calças do ano passado continuam a servir-me igualmente.
As pessoas não perguntam porque deixei eu de fumar, porque a resposta é óbvia. Porém, havia uma coisa que me deixava a pensar.
Eu tenho à minha volta umas quantas mulheres que andam perto dos cinquentas e que fumam.
E não há como dar-lhe a volta. Se até aos quarentas, nem sempre se distingue uma fumadora de uma não fumadora, a partir da esquina dessa idade não há connfusão possível. Basta olhar para uma mulher durante uns segundos e percebe-se logo se fuma e quanto fuma por dia. É o aspeto geral. É a pele, são os olhos, são os dentes... Começou a fazer-me confusão. Então, agora que ando a investir milhares de euros nos dentinhos e com resultados excelentes (vamos ver sem em 2015 me livro dos ferrinhos), ia eu conspurcar o esmalte?
Uma mulher que fuma envelhece muito mais.
E assim se deixa de fumar também por vaidade.
Há uma pessoa que gosta muito de mim que me dizia sempre "Ó Laranja, fumar é uma coisa que não combina nada contigo."
Assim, fica a fazer "pendant", que coisas a condizer é algo me me fascina e entusiasma.
Na verdade sinto como se fosse um "eu" completamente diferente.
E que mais de 2014?
O saturno lá se foi embora do céu astrológico. Já me andava a roer as bainhas das calças há quase 3 anos. Foi um longo remoinho que desarrumou tudo, mas lá deixou algumas coisas arrumadas. E já se sabe, quando se arruma fica sempre um espaço vazio.
É definitivamente vazio. Daquele tipo de vazio de fazer eco.
E é para esse espaço vazio que tenho olhado. Há dias em que parece espaçoso no bom sentido, mas em essência é claustrofobicamente amplo.
Por isso é que viajo, às vezes mesmo sem sair do lugar.
A minha geografia onírica é mais ou menos diversificada, mas vou muito a Paris.
Assim assim mais a Londres.
Sempre Londres.
Vou a Londres várias vezes por dia. Entro nos museus, ando por Westminster, apanho sol nas cadeiras de Hyde Park, vejo os esquilos a saltar, faço o Strand a pé, subo até à Soho Square e aí descanso num dos bancos.
Existe um tempo para uma pessoa se fazer ao caminho, mas esse tempo ainda não chegou.
Confere. Dá tonturas, sim senhora.
Eu prefiro vertigens.
E se for para andar à roda que seja para dançar.
Aquela coisa do PCP
não ter gostado da queda do muro dá para perceber perfeitamente. É o apreço que eles têm pelas obras bem feitas de betão armado.
É o que dá quando os cérebros são como o cimento: deixa-se passar o tempo e aquilo seca. Depois só lá vai com picareta. Ou martelo, vá...
É o que dá quando os cérebros são como o cimento: deixa-se passar o tempo e aquilo seca. Depois só lá vai com picareta. Ou martelo, vá...
Sócrates
detido... Certo...
mas eu quero é ouvir o estrondo do Portas a cair! Isso é que me motiva todos os dias para ver/ouvir notícias. Depois de décadas de sacanagem dissumulada no ar de estadista sério e honrado isso é que caía mesmo bem. E vai acontecer como um "bowel movement" irreversível.
mas eu quero é ouvir o estrondo do Portas a cair! Isso é que me motiva todos os dias para ver/ouvir notícias. Depois de décadas de sacanagem dissumulada no ar de estadista sério e honrado isso é que caía mesmo bem. E vai acontecer como um "bowel movement" irreversível.
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